Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Cálice da Vingança - Parte 2/7

Anos passaram e o Pirata Gagueiro subia na vida com segurança. Tinha boa reputação, boa imagem e palavra. A sua influência aumentava no mundo da política e o nome Gagueiro tornava-se cada vez mais famoso entre os piratas. 

Cara de Cepo mudara para um porto longínquo onde a sua fama ainda não chegara. Sentira-se obrigado a mudar de país, mas como a vida de pirata é mesmo viajar, o contacto com os clientes e amigos... de sempre manteve-se porque eles andavam por todo o lado. Cara de Cepo simplesmente não podia fugir de si próprio por mais que mudasse de cidade. 



O Pirata Tresolho assistia Gagueiro, estava incumbido de fazer passar as suas mensagens, auxiliar nos trabalhos, aconselhar, fazer algum trabalho sujo, etc. Era um homem valoroso e cheio de recursos, o que ajudava a compensar a sua falta de acuidade visual, razão pela qual nascera o nome que lhe atribuíram. Esteve quase para se chamar “Dentes de Alcatrão” não fosse o nome já estar atribuído. Os colegas ainda o incentivaram, propondo ajudá-lo, mas Tresolho acabara por ganhar afecto ao primeiro nome e assim, Gagueiro podia gozar do voto de mais um eleitor porque as eleições estavam à porta.

A aproximação de eleições acarretava o remexer em muitas amizades, mais especificamente, a colecta de favores. Uma vez pirata, sempre pirata... Foi desta maneira que os cartazes do Pirata Gagueiro chegaram ao bar do Cara de Cepo. Um dos clientes a serviço do agora político, pediu-lhe para colocar a publicidade numa das paredes. Qual não foi o espanto quando este se deparou com a cara que figurava no cartaz. Tal como os amigos, também as notícias mantiveram-se em contacto, embora não da vida da política. Pirata que é pirata não perde muito tempo nesses assuntos - não trazem lucro imediato. Só que pirata a sério não tem verdadeiramente amigos, porque a procura de tesouros e ouro fácil, levava-os à traição até das mães. Até aí chegava a honra entre piratas, mas apenas.

Cara de Cepo acedeu ao pedido. – Mas que é feito do Gagueiro? Nunca mais lhe pus as vistas em cima!
- Decidiu-se pela política e parece ter grande futuro.
- Não acredito! Então foi ele que criou o nosso partido?
- Pois foi.
- Olha, olha! Já o estou a imaginar, no parlamento, a gaguejar nos discursos! – Cara de Cepo ria-se desbaratado, embora a cara quase não mexesse músculo. O riso era tão aguacento, que o homem em frente viu-se forçado a limpar a cara dos perdigotos.

- Qual quê! Ele fala como um doutor daqueles que estudou muitos anos!
- Não! Como pode ser?
- Os boatos dizem que ele tem um segredo qualquer, mas ninguém tem a certeza. Fala-se num cálice desaparecido...
- O cálice? – Cara de Cepo ficou esbaforido. Virou costas e desapareceu a resmungar alto.



Quando Cara de Cepo voltou ao balcão do bar, encontrou o cartaz pendurado na parede. Retorceu os lábios de raiva. Os olhos quase saíram de órbita, negros e aterradores. Mais tarde, ao voltar para o quarto que mantinha nas redondezas, passou pelos postes de iluminação raquíticos, com o petróleo apagado há horas, o sol bailava já no céu. Cada poste sustinha um cartaz e cara neles impressa ria. Ria às gargalhadas e a imaginação dele podia ouvi-las. Faziam pouco dele. Retirou o facalhão do cinto e cortou lascas na madeira exactamente em cima dos cartazes. Estava decidido, iria regressar e procurar o Pirata Gagueiro. Estava com muita sede e esta era de vingança. 

O Pirata Gagueiro andava muito ocupado. Nunca havia imaginado que as eleições lhe pudessem dar tanto trabalho, mas estava decidido a ir em frente. Sentia falta de pertencer à tripulação de um navio, do companheirismo, de empenhar a espada sem receio de lhe apontarem o dedo ou uma arma. Na cidade só se podia desembainhar uma espada para defender a honra, se bem que se pudesse usar esse argumento para variadas situações, a preferência dos gentlemen que ele desafiava, ia para as armas de fogo e como o desafiado é que escolhia... Ora, para um pirata com saudades do combate corpo a corpo, isso era demasiado impessoal, já para não dizer, fácil. Virar-se e disparar antes do adversário, para terminar o combate com vida, era um dos truques do Pirata Gagueiro. E como o morto já não podia reclamar, o seu padrinho de duelo tão-pouco ia arriscar a pele por um defunto, ficava tudo por ali. A certa altura o pirata deixou de ter pessoas a fazerem-lhe frente, começaram a evitá-lo. A reputação a decair, a imagem a alterar-se. Às vezes ele não conseguia compreender as pessoas da cidade...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Cálice da Vingança - Parte 1/7


 


Entre a escuridão da sala, comandava destinos além do seu. Buscava incessante a saída daquele sítio onde viera parar – um bar de piratas. Passava todos os dias por mãos indelicadas, mal-cheirosas e cheias de calos, que tal facto agravava a sua disposição.

-Raios, raios, raios! Sempre a mesma coisa! Mas que raio de vida é esta? Não fui feito para isto!

Os outros, cálices de menor estirpe, segundo ele, ouviam-no em silêncio. Por vezes tinham-lhe medo e por isso deixaram de responder quando ele falava naquele tom – Raios, raios, raios! - Ia ser mais um daqueles dias como aliás, se estava a tornar costume desde que enfiou no seu teimoso cristal colorido e metalizado, a ideia de vingança.
Queixava-se de novo o velho cálice. Não que fosse velho pela idade, fora confeccionado apenas há uns meses, três para ser exacta, mas pela disposição que tinha todas as vezes que se apresentava ao trabalho. – Eu não fui feito para trabalhar como vós! Eu fui criado para me apresentar apenas em cerimónias, em ocasiões especiais. Assim foi traçado o meu destino – com glória! - Ainda não havia começado o dia e já estava cabisbaixo, derrotado, excepto quando pensava no seu plano. - Que futuro tão promissor tinha pela frente. Servir reis e rainhas, a comandar os destinos do mundo... Ah! Mas vocês vão ver! O meu plano é fenomenal! Todos os que beberem de mim vão querer repetir e nem vão perceber o porquê!

Os outros copos entreolhavam-se e como não podiam fazer nada contra ideias tão gabarosas, recolhiam-se ao que ficou imposto ser a sua insignificância. Afinal eles eram apenas feitos de metal esmaltado colorido com incrustações de vidro a imitar os verdadeiros cálices.


 


As primeiras luzes acendiam. Pouco era o tempo de descanso. A vida num bar de piratas não era fácil. Os piratas eram conhecidos pelas suas noites intermináveis, bebedeiras intermináveis e... lutas intermináveis. O cálice estava cansado, mas decidido. Possuía um trunfo que ninguém desconfiava, nem mesmo quem o comprara por uma bagatela, o Pirata Cara de Cepo. Era chamado assim porque quando jovem andara tanto à luta com outros piratas que a cara perdera a capacidade de mostrar expressões. Uma história triste no entanto, já que grande parte das lutas perdeu-as e a sua vida como saqueador dos mares teve pouco êxito. Do que tinha em coragem, pouca, sobrava-lhe em persuasão. Fizera o bar, já que todos os seus conhecidos eram corsários velhacos, visualizou assim maneira de fazer fortuna sem correr tantos riscos. Depois de se apanhar tanto, o que se deseja a certa altura, é descanso. Pagou para que os companheiros divulgassem o bar e prometeu-lhes uma parte nos lucros. Mas ele era tão velhaco que lhes dizia ter dividido as moedas aquando da entrada deles no bar, pelo que também lhes dizia, que gastavam lá todas as moedas ganhas sem nunca lhes ter dado nenhuma. Os companheiros nunca desconfiaram de nada já que todos os dias que por lá passavam gastavam tudo o que tinham e, no fim, já arrastando-se pelas ruas, caídos de bêbados, nunca se poderiam lembrar do que se passara antes. Por vezes, à conta de um olho negro e uns dentes partidos, podiam apenas imaginar como havia sido a noite anterior. 

Homem de negócios cheio de ideias e montes de crenças, Cara de Cepo embarcou num encantamento desde o momento que vira o cálice. Todas as peças do bar apareceram quase como por magia, digamos que por... persuasão... E por isso não tinha duas mesas, dois copos iguais. O cálice fora a única peça realmente comprada e colocada em local de destaque.

O cálice apercebeu-se desde o primeiro momento do destino que lhe estava a traçar o seu dono. Nada do que estava a acontecer-lhe era parte do destino original. O que diriam os seus pais daquilo? Ele, uma peça tão nobre, ali num bar de piratas? – Eles vão ver!... Eu?! A ser vendido dessa maneira e ainda por cima regateado?! Vão ver, vão ver!

Os primeiros piratas a entrar, olhavam para o centro do bar. Lá figurava o cálice. Embora comercialmente não tivesse grande valor, era o seu porte e anterior destino que lhe emprestava a cobiça com que todos o olhavam. – O rum sabe melhor quando bebido pelo cálice - diziam. Todas as noites apenas uma pessoa podia usufruir dele e era precisamente quem tivesse as bolsas mais recheadas. Os piratas chegavam lá a gabar-se dos seus feitos e aquele que mostrasse mais ouro ou prometesse sair de lá com os bolsos mais vazios, bebia do cálice, até ficar de bolsa mais leve. Logo passava a oportunidade a outro.

-E porque foste para uma loja em vez do altar do rei? – Perguntou-lhe uma vez um dos cálices esmaltados.
-Bah! Só porque falhou a mão ao meu criador. Nem se nota nada... – Era esta a grande vergonha e o que desviara o grande cálice do destino para ele fadado. Uma falha que apenas olhos treinados poderiam observar e que certamente naquele bar ninguém notara. Uma bolha no topo do pé do cálice que transformara perfeição em defeito pois estava ligeiramente descentrada. Caso contrário, seria de valor incalculável.
Os copos tinham-lhe medo. Ouviam-no preferir palavras de maldizer e ficavam a imaginar o que seria que passava naquele cálice sedoso de vingança sem se atreverem a perguntar. 

- Afinal qual é o plano? - Este cálice esmaltado era novo naquelas paragens e bastante atrevido, provavelmente fruto da juventude.

Todos ouviam interessados e os que não conseguiam ouvir por estarem longe, esperavam ansiosos o passa palavra sobre o que era dito pelo cálice maldito.

- Sempre que bebem através de mim, libero na bebida parte da minha composição.
- Para quê? – Perguntava o copo imberbe.
- Assim eles ficam viciados em mim. Com certeza já reparaste como todos lutam por me ter nas mãos...
- É por isso?
- Certamente! E a minha imponência, claro!
- Claro... – O jovem quase ria com tanta prepotência. – Mas isso não é perigoso?
- Eles sobreviverão. É só até conseguir sair daqui. Tenho de fazer com que lutem por mim para que um deles me roube e me leve a outras paragens.
- E como sabe, se quem o levar não o vai vender?
- Assim espero! E se não o fizer, há-de ter uma morte terrível.
Um dos copos que se encontrava mais perto, conseguiu chegar-se ao jovem e subtilmente avisá-lo para não continuar a conversa. Puxou-o dali enquanto o cálice continuava a ladainha para consigo.

Nessa mesma noite, os ânimos estavam exaltados, mais do que o costume. Palavra puxa palavra, e porque dois piratas estavam empatados quanto à maquia conquistada nesse dia, não houve decisão clara quanto a quem usaria a relíquia em primeiro lugar. Ambos queriam ter as honras da noite e como nenhum cedeu... navalha puxa navalha.

No meio da confusão um espertalhão aproveitou o facto de todos terem o olhar fixo na luta. Agarrou o prémio e fugiu porta fora. Foi só numa das ruas mais adiante que o ladrão se apercebeu que estava a ser seguido. O medo de ser privado do recente tesouro levou-o a tentar esconder-se o mais depressa possível nos cantos da noite. A perseguição durou. Quem o seguia tinha a alcunha de Pirata Gagueiro devido à sua imperfeição de fala e não desistia nunca do que tinha em mente. Por vezes demorava-se nas sílabas, mas ninguém se atrevia a fazer pouco dele na sua presença, não depois do sangue corrido à sua conta. A fama de persistente acompanhava-o onde quer que fosse e estava claro que ia levar esta tarefa até ao final. Vira o ladrão pegar o cálice desejado no meio da confusão. Ele estava demasiado longe para executar a sua ideia com rapidez suficiente e fora ultrapassado pelo Pirata Fininho, assim chamado com justiça ao corpo delgado que o permitia esquivar-se dos outros durante as lutas e tirar o máximo proveito das situações.


 


Entraram nas mais escuras ruas da cidade, brincaram ao jogo do gato e do rato para no fim, o rato, ser inevitavelmente apanhado.

Ninguém sentiu a sua falta, embora o Cara de Cepo tivesse pena. Gostaria de ele próprio ter feito o serviço. Agora nunca iria descobrir quem tinha o precioso cálice. O bar iria perder clientela e teria de recomeçar tudo noutro porto. Estava arruinado.

A motivação de cada pirata para possuir aquele troféu estava relacionada directamente com as especificidades pessoais e o que objecto em questão podia fazer em cada caso. Quer fosse real ou apenas sugestão, o certo é que todos partilhavam a convicção dos poderes especiais que o cálice lhes transmitia. No caso do Pirata Gagueiro, após beber dali, este podia falar eloquentemente. O sonho de criança voltava após aquele milagre. Se falasse bem, podia mudar de profissão e dedicar-se à política. Estava na hora de criar o tão comentado entre os pares - “Partido dos Piratas”. Esperava-o uma vida fantástica, cheia de poder e dinheiro fácil. Os dias de frio e tempestades no mar com perigo para a sua vida terminaram. 

Começou por comprar roupas melhores, cortar o cabelo, procurar as pessoas certas para o ensinar as coisas da política... Ah! E tomar banho!

(Continuação na próxima semana)
Parte 2/7 AQUI

domingo, 28 de novembro de 2010

O brilho dos teus olhos, lembras?


 


Lembras-te de quando eras criança e tudo te sabia maravilhosamente bem?
E as cores eram vivas? As brincadeiras eram a vida?
E a vida sabia bem!
Tinhas esperança e confiavas em tudo o que fazias. Acreditavas em ti.

O que mudou?
Cresceste. Foi o que aconteceu.
Se mudarmos como vemos o mundo, ele muda. Quando começaste a ver o mundo como teu inimigo?

Faz a seguinte pergunta: Fui eu que desejei crescer ou foi o mundo que o exigiu?
E depois sê sincer@, muito sincer@ contigo e responde mais uma vez: Foi mesmo preciso?
Foi precisa a mutilação?

A relva continua a ser cortada e o cheiro a fresco, a cheirar a fresco. O chocolate continua a saber a chocolate e os espinafres, a espinafres.
Por que comes agora as verduras que antes rejeitavas? Por que comes agora chocolate?
E por que te sabe melhor ouvir as músicas da tua infância e juventude?
Os desenhos animados que vias e agora revês com os teus filhos, lembram-te de como eras? Fazem os teus olhos brilhar? Fazem-te sonhar?


Relembra-te.

Vai ao espelho depressa e vê-te. Abre bem os olhos e procura. Ainda estás aí, algures. Entra nos teus olhos, nos teus sonhos, na tua luz.

Não os abandones.
Não te percas, redescobre-te. 


SEI QUE CONTINUAS AÍ.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Seeker




Acabou a música

Aplausos, pessoas levantadas, movimento uniforme.

A plateia vibra.

A agradecer, o ratinho cantor de ópera, eu.

Agradeço...


A partida, porta enorme a abrir, subida para a cadeira de descaracterização. Tiro os bigodes de ratinho. Limpo a minha cara. De súbito tudo diminui de tamanho. Agora vejo-me na minha realidade.

Abro a porta para o elefante que sou. Fecho a porta para o ratinho que sou no palco.

A mesma visão continua... tenho os mesmos pequeninos olhos de rato. A pele, essa, escureceu para um cinzento mais escuro.

A procura do mim que se esconde em cada desafio, em cada palco...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ser poeta



Ser poeta é sentir-se.
Sentir o Mundo.

Sentir.


Ser poeta é Amar o que se faz.

Por vezes até Amar o próprio amor, quem sabe?

Pode também ser odiar, mas Odiar de verdade...

...ou fingir que se odeia.



E sobretudo brincar, e gostar de brincar como

Comer chocolate, ou saborear um castanho chocolate!

Ou um azul que é do mar ou de uns olhos...



Ver gatos a sorrir e sorrir-lhes.

Fazer as pedras chorarem.

Dizer que “se as pedras tivessem alma seriam seres vivos.”

Gostar das pedras como são.



Dizer e contradizer, dizer coisa alguma...

Exclamar, interrogar, afirmar pintando, escrevendo... Amando.

Tentar fazer a verdade aparecer ou

Um seis, num jogo de dados.

Enfim, embebedar-se no êxtase do mais profundo Amor:

A Criação.



90.10.02

domingo, 7 de novembro de 2010

Re-Nascer




Eu sou a Alma que urge em nascer. Está quase, mas não foi suficiente o susto.
Falta a força para querer viver. Como se consegue isso?

Estou aborrecida.

Mais uma semana que passo no meu berço-pré-maternal. Ainda não encontrei o buraco de parir.
Quero, ao nascer, que o dia seja o mais belo e magnífico de todos. Vai chamar-se "O Dia em que o Amor Renasceu". Como a ave, eu me nomearei Phoenix.

Sou a criança chorante do mundo sonhado, não nascido, não berrado. Sou a criança que ainda não nasceu, quando será o dia?

Reconhecer-me-ei?

Tenho medo. Em todo o caso, quem não terá?

Estou esperando impacientemente, em êxtase.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Impressão digital




O que é feito da minha impressão digital?
O que sou eu, quando não há ninguém à minha volta?
Quem sou eu?

Se eu fosse uma flor, transformar-me-ia numa árvore, num céu, em erva, em insectos e seria a própria Natureza. Mas para as flores isso é mais fácil de aceitar (se é que têm de aceitar alguma coisa), porque elas já fazem parte da Natureza.
 Eu, no máximo, posso confundir-me nas multidões, e transformar-me multidões, e ser multidões. Mas eu sou seu. Não sei o que sou e tenho consciência disso. Perco-me em tudo o que vejo e oiço. Se ao menos me perdesse na Natureza... não seria tão grave, porque foi a condição primeira do homem.
Hoje, andamos engravatados, vestidos, engavetados, fardados, mascarados. Imitámo-nos e não sabemos quem somos. É muito fácil. Livrámo-nos de pensar e de ser. Rimos quando nos mandam e fazemos amor por contágio.

Se oiço Prince, logo danço como ele e canto como ele.
“Vejo” Picasso, e logo raciocino aos quadrados!

Não me interessa olhar as estrelas e sê-las falsamente em mim.
Se me vir ao espelho, não me reconheço e nem me sei imitar. Sou o nada em pessoa. Uma bola, que de tão geometricamente perfeita não tem nada e no nada subsiste. E aqui estou. Fecho-me em mim e internam-me por enlouquecer na minha fútil existência. Ainda mais passivamente vivendo, seguiria, convencida de ser louca, comportando-me como tal e por ter como exemplos exteriores essa “chamada” insanidade.

Quero ser eu e reconhecida como tal.
Passar pelos pássaros e eles não terem medo de mim por me verem diferente das outras pessoas.

Queria ser original, una.
Um eu como não haveria outro igual, nem mesmo imitável, fotografável ou... consciencializável!

Mentir e saber-me bem!

Deliciar-me ao reparar no “engano” de dizer nascer, em vez de acordar de manhã... e nascer sempre!...
Ah! Como era bom ver a minha impressão digital!

91.03.25

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tamanhos


Sou pequena porque preciso de mais Amor que qualquer pessoa...


Sou pequena porque Deus sabia disso e assim, quando alguém me abraça, abraça-me toda...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Segredo

Ao nosso redor, existem tantas coisas que não podemos ver, que não conseguimos sequer imaginar.


Antes e para além do arco-íris, além do seu início e do seu final, em todos os lugares! Mesmo quando olhamos para o céu, passando as nuvens e o sol.

É aí que ele vive.

- Quem? – Perguntam vós.

Xiu!... Falem baixo! Bem, acreditariam em mim se lhes dissesse que é uma espécie de dragão? Mais do que um. Na verdade existem milhares deles, a voar por toda parte!

Mas têm que fazer um esforço para acreditar em mim, porque, vocês sabem, nós não podemos vê-los. Bem... Não podemos ver todos, excepto um.

Este...

Vou falar-vos dele...

Ele era um pouco desajeitado. Sempre a cair, sempre a tropeçar em alguma coisa...

Todos os outros dragões diziam-lhe constantemente:

- Tem cuidado!

- Não te mexas!

- Está quieto!

- Está...



Creio que já devem fazer uma ideia, certo?

Bem, ele adorava brincar o tempo todo. E como todos os jovens dragões, ele gostava de jogar às escondidas e de divertir-se com as estrelas.

Mas ele era tão desajeitado!

Os dragões são invisíveis para que ninguém tente apanhá-los. É que eles gostam de ser livres. Eles gostam de voar e de observar-nos, aos seres humanos. Às vezes eles voam tão perto de nós que podemos até senti-los... Vocês sabem... Quando se sente aquela brisa morna e agradável? Sim! Às vezes, são deles!

Eles são muito curiosos!

Mas o nosso amigo era muito, muito trapalhão...

Este dia, estava ele a brincar com uma estrela - Tudo lhe acontecia...

- Não tenho sorte nenhuma! – Dizia ele.

Então, desta vez, ele tinha soluços.

- Hic, hic, hic...

Estava ele entretido a jogar com a estrela quando... Não sei se vão acreditar em mim...

Está bem, está bem! Eu conto!

Ele engoliu uma estrela - foi o que aconteceu!

- Não tenho sorte nenhuma, não tenho sorte nenhuma!... – Foi a correr para os pais, a choramingar.

Como podem imaginar, agora ele tinha esta luz na sua barriga. E todos podiam vê-la!

Os colegas começaram a chamá-lo de "lanterna"!

Muito triste, tentava esconder-se, mas não podia. A luz denunciava-o.

A fugir dos amigos, ele estava a voar tão rápido que ao passar perto do nosso planeta, se apercebeu - os seres humanos poderiam agora vê-lo - não a sua forma de dragão, invisível, mas a estrela que ele tinha engolido.

O engraçado - pensou - era que os seres humanos formulavam um desejo quando ele passava.

Da sua má sorte, ele trouxe esperança e fortuna para os demais.

Portanto, meus amigos humanos, de cada vez que virem uma estrela cadente, peçam um desejo. Pode ser o nosso amigo dragão da sorte a brincar, acenando-nos “Olá”!

domingo, 27 de junho de 2010

Chamamentos

Ela seguiu um chamamento interior forte. Entrou pelas águas calmas do mar. Pé ante pé, até que se viu obrigada a nadar para seguir. O impulso fez-se mais irresistível, não podia voltar atrás.

As águas límpidas eram fascinantes, conseguia ver até bem longe. Pequenos peixes e algas pairavam ao seu redor, mas algo maior se aproximava. Não conseguia distinguir bem o que era, uma mancha apenas que se aproximava. Não existia medo porque sentia que era aquilo que a puxava a si, com um magnetismo arrebatador. Pouco a pouco, a forma definia-se em qualquer coisa reconhecível. Tinha de respirar depressa e voltar a mergulhar, queria, tinha de ver o que era.


O chamamento era tudo, maior que o mar, maior que a vida. Nenhum pensamento de sobrevivência lhe assomou à cabeça, tudo se tornara secundário àquele ser, àquele momento, àquela revelação. Mas seria uma alucinação? Seria possível, um homem ali, vindo directamente do mar? Não podia ser, é que nem sequer era na realidade um homem, tinha cara de homem, olhos de homem, mãos de homem… as pernas eram uma cauda de peixe, brilhante e escamosa. Bizarra imagem, pensou ela e não queria acreditar.

Tentou rir e subitamente lembrou-se que já não tinha ar, havia-se esquecido de respirar perante tal… o que era aquilo? Uma alucinação, uma sereia-macho? Uma sereia-homem. Isso existia? Estaria louca? Uma quantidade abismal de perguntas enchiam-lhe a mente. A cada vez maior proximidade dele clareou-lhe os pensamentos e o espírito, nada interessava. Acontecesse o que acontecesse, estava ali, era o aqui e agora. A admiração por aquele ser que se lhe apresentava à frente gravava-lhe na memória como na alma tudo o que estava a acontecer. Nadaram juntos, o olhar interrogava, o olhar falava. Os seus músculos gritavam que voltasse à realidade de mamífero que era para se alimentarem de oxigénio. Era imperativo respirar. O tempo fugia e não coincidia com o tempo psicológico. Sentia-se criança, sem medos, sem complexos e obrigações. À beira dele estava bem e quase nem precisava de respirar.

A dada altura pararam frente a frente e olharam-se bem dentro nos olhos. Pareciam conhecer-se desde sempre. Foi aí que ela reparou num pequeno apêndice que saía do meio das escamas, pequeno e transparente, como um tentáculo de anémona… Pela primeira vez tocaram-se, ou melhor, ele tocou nela. Um choque terrível percorreu-lhe o corpo, todas as terminações nervosas responderam contorcendo-se, os olhos cerraram-se, os dentes e os lábios também e abriram-se num grito surdo. A água invadiu-lhe os pulmões, a dor era insuportável… e passou. Tentando acalmar-se e retomar o ritmo cardíaco, sem saber o que pensar, olhou as suas mãos e corpo. Já não precisava de subir à superfície, a água tornou-se o seu elemento… deu a mão à sereia-homem e foi, perdeu-se no azul das águas, juntou as suas histórias ao mar.

Estremunhada, despertou-se sorrindo, calma. Durante todo o dia sonhou acordada. Todos lhe perguntavam o que estava a acontecer com ela, que lhes parecia diferente, mais luminosa, viva, estranha. Ela apenas esperava que terminasse o dia para voltar à sua vida onde se transformava numa sereia e ia nadando pelo mar adentro, à procura de novas aventuras e lugares para viver.

Nunca contou o seu segredo a ninguém, tinha medo que se desfizesse como a espuma das ondas na areia ou perdesse o brilho, mas todos os dias lá voltava…

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Flor Máis Grande do Mundo (José Saramago)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A fonte


Foi descoberta um dia, uma fonte. Era pura. Estava rodeada de árvores, tudo do mais verde que pode existir. Os pássaros cantavam livremente. As pessoas iam lá beber água para se refrescarem e matarem a sede. Os animais e as pessoas não se temiam. Coexistiam.
Inconscientemente, as pessoas começaram a fazer pedidos enquanto lá estavam. Pediam por Amor e saúde. Não só para elas, mas para tod@s aqueles que amavam. Pediam também paz. A fonte começou a ser bastante falada porque realmente havia qualquer coisa nela de extraordinário. Os desejos realizavam-se...
Todos os dias formavam-se filas e filas de gente que ia lá fazer os seus pedidos. Mas os pedidos de alguma forma começaram a alterar-se. Havia uma criança que vivia perto da fonte e se apercebeu do que estava a passar. E avisava quem lá ia. - Cuidado com o que desejam... - De entre estas pessoas havia as que pediam bens materiais e o mal para outros. - Cuidado com o que desejam... – Avisava a criança. Ela mantinha-se ao lado da fonte, limpava o que lá deixavam de plásticos e papéis. Os pássaros e outros animais começaram a evitar aquele local. O silencia reinava, o cinzento também. A fonte parecia estar a mudar. Tinha menos água e não refrescava como antes. As pessoas notaram, mas nada fizeram. Pelo contrário, continuavam com os seus pedidos de vingança para com quem as havia magoado no passado e no presente.
A criança continuava lá a cuidar da fonte e a avisar as pessoas. Um dia a fonte parou de dar água. Mas ouvia-se um ruído dentro da montanha que se tornava mais forte. Houve quem pensasse – Vem aí a minha fortuna, aquela por que tanto esperei! É o ouro! É o barulho das moedas dentro da montanha!
A fonte recomeçou a verter água. Desta vez com mais força, como que para lavar tudo e tod@s à sua frente. A força era tanta que as pessoas eram arrastadas encosta abaixo. Assustadas, estas gritavam e tentavam fugir o mais depressa que podiam. A criança seguiu as águas. A corrente não parecia afectá-la. À sua volta a água era mansa, apenas lhe tocava a sola dos pés.
Na corrente as pessoas eram levadas de qualquer jeito, não importava o quanto se agarrassem a postes nas ruas ou se escondessem, a água levava-as. No entanto carros estacionados nas ruas, bicicletas nem se moviam. Por cima de cada pessoa aparecia um diabinho com um martelo e batia-lhes na cabeça com ele. Quanto mais agressivas eram, mais apanhavam. E eles riam-se!
A criança falava com as pessoas histéricas – Não tenham medo! Não sejam agressivos que a água nada vos fará, aceitem! Amem! – As pessoas continuaram a ser levadas e tudo ficou limpo.
Em cada cidade e aldeia do Mundo tinha aparecido uma fonte dos desejos... E o Mundo regenerou-se.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Persistence

Persistence gives generally its fruits.


Full of life and attentive this time, instead of going out to play with her mates,…

When the little girl went for her book on the shelter, she already knew the purpose of it. She stretched so much until she finally got it. She went along the street and stopping in a shadow of a big wall, sited on the floor to read. Calmly crossed the small legs and putted her hair behind the ears, clearing the face. Sighted and got started…

It was a strange book.

It started with a big wall, something like the one she had behind her. Though it was just a cold grey thing, it wasn’t really only that… it had life!

Stone by stone, it was raised by sorrow, tears, lies, too much work, no time for anything, forgotten words and gestures, looking away when a being needed to be looked in the eyes and be hugged…

Stone by stone, this wall has grown bigger so the person inside would protect herself from the persons that were hurting her.

As the wall in the book reached the sky, slowly the one behind our little girl was being dismantled while the name of every sorrow was named… Each and every one of the stones was now giving place to light, becoming each rock first lighter and then more and more transparent; the rocks at their own time became bright light!

Falling in her back because no wall existed anymore to support her rear, the girl was grabbed by two protective and friendly hands. Her eyes followed these hands to the arms, continuing to a neck, to a face and its eyes… The light was all in there!

-There you are! - She said. - I had a feeling that you were around here. Come! Let me hug you. Don’t hide anymore, please.

Stone by stone, grey plus grey, heartache plus heartache, the person inside became the wall – cold and distant- It is funny though, how simple it is for these fortifications to fall apart if you just reach it inside its heart…

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Curiosity



There once was a small flea that wasn’t happy with its life. He found it so monotonous that he wanted to change it very, very hardly.
He thought and thought ‘till he found that the best way to acknowledge the World was in the back of other animals. So he went for it! He gave this really big jump that could be a record for all fleas, so big was his will!...
It was so big of a jump that he actually found a bird.
It was great because he saw the entire World from the clouds. What great views he discovered! It was sometimes like ridding a Carousel, going up now and later vertiginously down, now fast and then slower…
I guess because fleas are very tiny and don’t live long; he was in a hurry to change his ride after only one day…
This time he gave another blind jump and ended up in a garden. It was a very nice one.
It had a pond with some frogs. – Hum - he thought – It must be a nice point of view from a frog’s back. I shall try it!
As soon as he could, there he was, ridding this big wet and green frog. At first the sensation wasn’t so nice… always wet… But O.K., it was all in name of adventure! But as soon as the frog jumped into the water… - Uuuh…  Oooooh!  - An air bubble builded around his body and he went back to surface like an astronaut in a balloon! He only had the chance for a glimpse… It wasn’t his element, really!
Dizzy and frustrated, he started searching for his next outing.
Carefully he jumped onto a dog’s back. It was a safe ride, he thought. Besides, he didn’t think of a snack before he left home…
Grabbing a long hair from his new friend’s head, he experienced the joy of running through the grass, sleeping in the sun and discovering cities. But he was curious about houses and a homeless dog couldn’t enter one – that much, he knew – he was a very well informed flea!
When he saw a cat hiding from the dog, without even thinking, he grabbed the opportunity.
Again the running through everywhere, sleeping in the sun… - But I’ve done that already, go into a house please! – He told it the cat so many times that he finally acceded to his request, cats are always very hard to convince!...
As the cat entered, he started playing with his favorite toy – a small stuffed white mouse. He jumped, run; hided under a card on the floor, crawled to finally grab a string with a feather in plain air. Crazy cat! Now he wouldn’t stop for a minute. After drinking some water, the ride went back to its activities – now he jumped on to this big tree inside the house… Humans are strange – thought our friend – but I guess it’s a good idea to have a tree inside your place…
They entered this room, a very cozy one; by the way, the cat would go there to sleep sometimes; but he didn’t understand why the humans screamed every time they would catch him there, after all, they slept there too!
The feline showed him books, where he would sometimes take a nap, opened all doors and rolled over everywhere. Bitted cables of machines where images were running fast with sounds that imitated original ones. There was only one thing he couldn’t do and it was to open this big white box with food inside. What a shame!
As the cat’s Human arrived in the room, the cat suddenly turned very soft and sweet. He was like talking to her. Well, he guessed it, because now he couldn’t understand him. She took him in her arms and caressed his back. It was nice! The cat licked its face and snored all the time. It was strange to see though, that this at first courageous and adventurous cat was in reality, so childish. Still snoring and rubbing itself to the human’s legs, and because a flea has to eat… The feline scratched once and twice.
By seeing this, the cat’s Human grabbed him…
-No! -  A scream was heard…
Our adventures hero, never saw a person so close as that time… in fact, the never saw another one or anything more after…
And they say that “curiosity killed the cat”…

sexta-feira, 7 de maio de 2010

The crying Child

- Why does he cry mum?




As soon as his eyes opened he smiled!

Everyone got astonished and couldn’t help but to smile too, endlessly. What a beautiful and contagious smile! Unlike every other newborn, this one didn’t cry but smiled and all the room was suddenly filled with this warmth… Though, it didn’t take long until he did cry. And he cried as if someone was hurting him. He cried as if he had some problem… They found nothing… Only that the formally lighter day had grown darker.

He cried so much that all doctors and nurses came to see what was going on. Every one hugged him, fed him and sang to him. There was no use. He wouldn’t stop.



After some weeks, they were all desperate. Science couldn’t explain what was going on. There was something of terribly wrong with that infant, but what?

His hair grew strong and fast. It looked kind of grey as if it was in such a hurry to grow that it simply forgot the color behind. Furthermore, he started to control his crying but never the tears that continually flowed. He never could.



As he went to school, all the other kids were very curious:

-Why is he always crying mum? - No answer was given…

Without small ears hearing it, parents talked between themselves about the news… They remembered this story of a little boy that wouldn’t stop crying… Was he the one? Nothing on him was denouncing of something any different of any other kid that same age, except for the tears. Oh yes, the hair was a bit strange too!

All the other kids, perhaps moved out of curiosity or some kind of magnetism, wanted to play with him.



Years gone by, still the hair reflected the colors for it no color had. Still it floated as if it were alive. People passing by him would stop and take their time just to stare, forgetting everything else. The school friends would always draw him in the drawing classes… -He is so colorful! - They used to say! - More than flowers or butterflies themselves, he was like a personification of color. Everyone couldn’t even stop smiling while at his side. Dogs and cats would follow him all around!



One day, after flying so close to him that it pulled the boy’s hair, a small bird, due to not much experience having in flying, went against a wall. Poor bird got very dizzy and fell to the floor. Running to help it, our hero gently grabbed it and gave his own tears to drink. With the smallest jump it recovered its breath, and looked into the boy’s grays eyes. - Thank you – Thought the boy he heard – He just smiled and let it go.



One day a colleague noted something was quite different. Trying to find out why he looked around. In the classroom others had the same impression. Why was everyone smiling? The boy had no more tears falling down his face… One of them started to laugh. Like a domino, one-by-one joined it. In the following classrooms the sound of laughter made them also adhered!

The next day in the news – The last of the wars still existing has finally ended yesterday – Said the reporter also laughing! He couldn’t say why exactly because each person there with him was laughing out loud too!



An astronaut in a mission, suddenly call for his companions:

- Come, come!

- Why are you…?

- Laughing? Check out our Planet Earth…

It was involved in the most wonderful Rainbow colors they’ve ever seen!

Then, even the last cynical man alive laughed!



Perhaps, one day grownups will understand why little boys cry…

domingo, 11 de abril de 2010

Ser


Em tempos muito idos, ainda os girassóis eram pequenas margaridas quando um deles pensou muito a sério na sua condição. Ele, de tão pequeno que era, enfrentava problemas para agarrar um raio de Sol que o aquecesse e passava as horas de dia claro completamente frenético atrás duma pontinha de luz.

Pequenino e sozinho, sentia que havia de fazer alguma coisa.
Começou por pedir ajuda às flores vizinhas, as margaridas – Por favor, dão-me uma ajuda? – Estas diziam – Também somos pequeninas! Temos dificuldades para apanhar um bocadinho de Sol como tu.
- E se nos juntarmos? Talvez assim consigamos mudar alguma coisa!
- Não podemos, somos pequeninas. Não temos força suficiente, somos pequeninas!

Depois virava-se para os arbustos – Por favor! Podiam ajudar-me a apanhar um raio de Sol?
- Estamos muito ocupados, temos muitos problemas! Volte mais tarde.
Frustrado, virava-se para as árvores que o mantinham na sombra das suas muitas folhas – Senhoras árvores, por favor. Podiam dizer às vossas filhas que se organizem para que possamos também receber um pouco de luz directa? - Mas as árvores nem o ouviam. Não é que o fizessem de propósito, pelo menos não todas, as árvores tinham os ouvidos bem lá no alto, o que dificultava um bocadinho e as limitava nas amizades. Digamos que neste mundo – à semelhança de alguns outros por analogia...– a altura era estatuto.

As flores tinham de contentar-se com o que acidentalmente conseguiam.
Esta flor, no entanto, não estava contente com a sorte que lhe calhara. Todos os dias falava com os vizinhos pedindo ajuda e nada.
Pensou e pensou, queria mudar de vida – Se ninguém me ajuda, vou eu ajudar-me! Deve haver alguma coisa que poderei fazer. – À falta de melhor ideia, pensou que poderia tentar esticar-se o mais que pudesse. Fez isso durante um dia – Não me parece que esteja a resultar...

As flores ao lado notaram os esforços e comentavam entre si. Com olhares e risos jocosos entretiveram-se nos dias, semanas, meses seguintes. Os arbustos não se dignaram olhar, as árvores, essas... nem repararam – têm os olhos bem lá no alto, perto das orelhas...

O girassol não se importou, sabia que era possível o plano falhar, mas estava disposto a dar o seu melhor – Sempre me ocupo a fazer algo em vez de apenas me queixar – pensava de si para si.

Chegou um dia em que os arbustos inventaram outra queixa, havia uma nova sombra – Que é isto? Já não bastam as árvores? – Mais um problema para os consumir entre a água que ora insuficiente, ora sem qualidade; ora a terra pouca para tantas plantas, ora com demasiado sulfato; ora dias muito curtos, ora demasiado longos; ora, ora, ora...

Agora o murmurinho era outro. O girassol crescera tanto que ficara maior que muitos arbustos. Os girassóis mais pequenos queriam saber como ele conseguira aquele feito. As flores diziam – Oh! Somos tão pequeninas e fraquinhas... Nunca iríamos conseguir crescer tanto, somos tão fraquinhas... E pequeninas...

O girassol gigante explicou a todos quantos quiseram saber como o fizera, curiosamente só os da sua espécie se interessaram, aquela espécie de seres que sabem e lutam pelo correcto... Enquanto os companheiros se esforçavam por chegar ao tamanho que ele alcançara, a notícia espalhara-se por toda a floresta. Estava tão feliz que se tornara amarelo como o Sol, as pétalas debruaram a coroa interior de glorioso ouro. E ajudava gafanhotos e outros insectos pequenos a subir até ao seu topo, permitindo-os usar gradualmente as folhas como escada e plataforma de salto para as poças que entretanto se haviam formado no chão pelas últimas chuvas. No cimo, os insectos juntavam-se a pássaros de pequena estatura que improvisaram uma esplanada. O girassol sentia-se o rei daquela zona ainda que ao anoitecer, o cansaço se abatia sobre ele e pendia a cabeça para dormir.

O Sol exercia um poder tão forte sobre ele que o impulsionava a subir, emprestava-lhe razão para crescer. Isto era tudo o que ele sentia. Isto era tudo o que ele sabia. Todos temos o direito de exigir o Sol, ou... um lugar ao Sol, não de exigi-lo dos outros, mas de nós mesmos. E depois, se tentarmos que perdemos?