Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Th1rteen R3asons Why


Acabei de ler o livro "Th1rteen R3asons Why" do Jay Asher.
Comecei a ler o livro ontem e acabei de o ler hoje. Senti-me como se estivesse viciada, precisava de o ler até ao fim. Precisava de saber como iria acabar. Mas não acabou de nenhuma maneira espectacular. Acabou, simplesmente e não vou contar como!

Foi um livro que me impressionou por variadas razões. 13? Acho que nem tantas!
Comecei a lê-lo porque o tema me interessa - Bullying.

Uma jovem muda de cidade e escola, neste ambiente novo começa a sofrer com os rumores que inventam sobre ela. É uma escalada enorme sem fim à vista para ela e ela faz precisamente o que acha a melhor solução para ela - suicida-se. As pessoas que a ajudaram a tomar essa decisão vão receber um conjunto de cassetes numa caixa de sapatos. Com a caixa, recebem instruções para ouvir as cassetes até ao fim e depois passar à pessoa seguinte. Todo o livro é a reacção de uma dessas pessoas enquanto escuta os áudios.

É uma narrativa bem elaborada e fácil, sem ser mastigada. Embora o tema seja difícil de abordar, foi feito de uma maneira bastante inteligente e muito segura. Não há lugar a tédio, aqui.

Mas que achei realmente do que a história e como a história aborda o tema?




Bom, como ex-vítima de Bullying e autora de livros cujos temas rodeiam o mesmo, achei que o autor foi, no mínimo, corajoso. Mas se calhar os elogios ficam por aqui. Tanta mágoa e raiva. Será que o autor viveu...????.... sim, o autor viveu algumas coisas durante a sua juventude... é impossível não as ter vivido. Como poderia escrever sobre o assunto se não sabia/sabe o que se passa quando se sobrevive ao bullying?

Mas que critico eu afinal? Está bem escrito, não há dúvidas. Só que dei por mim voyeurista. Continuei os rumores só por estar a ler o livro. É como se fosse eu a andar pelo meio da cidade onde Hannah e os colegas viviam, a espiá-los... Como se me promiscuísse naquele lodo todo. Sim, porque é de lodo (para não usar uma palavra mais forte) do que o livro fala. Fez-me impressão porque perante todos os acontecimentos, só no fim ela consegue ver um bocadinho de quem ela também era. Porque ela, quer quisesse quer não, era conivente com tudo o que estava a passar. Só que escolheu o caminho mais fácil - apontar o dedo a toda a gente.
E não o fazemos todos? Não é isso que fazemos quando nos dói a alma? Aqui é que está a questão. Por muito interessante que o livro seja, acaba por ser um apontar dedos a toda a gente. É isto que faz o livro em quase 99% das palavras que usa. Talvez esteja a exagerar um pouco... É um livro em que precisamos mastigar muito, remexer muito em nós.

Clay, um dos únicos “conscientes” de todos os personagens, leva-nos pela narrativa pela sua própria voz. Isto mexeu comigo. Colocou-me lá, fez-me também mexer no logo e cheirá-lo. É isto que torna o livro forte. Somos nós, afinal, cada um de nós que estamos na pele dele e queremos salvar Hannah. E não podemos fazer nada. Tal como Clay. Ficamos frustrados. A ideia do autor vai de encontro com o final. Se não conseguimos salvar toda a gente, ao menos podemos ajudar a salvar alguns dos jovens que vão aguentando sem se destruírem totalmente. É um abrir de consciências.

A minha questão é que o livro passa a mensagem de que são os outros que têm de nos salvar de nós próprios e na verdade a vida não é assim. Ok, todos nós podemos ajudar uma pessoa nessa situação, mas... é sempre decisão da própria pessoa salvar-se ou não.




Quando Hannah pede ajuda, não é para se ajudar, foi mais uma forma de se vitimar mais uma vez. Este pode ser um dos perigos do livro - usar estas estratégias para nos vitimarmos, apontar os dedos a toda a gente para que não olhem na nossa direcção. Seria interessante se alguém se matasse e começasse a enviar cassetes e vídeos para toda a gente que @ magoou. Que linda forma de vingança! Que linda forma de apontar o dedo a toda a gente! E como se sabe, não se consegue contrariar um morto.

É interessante como ela se vê em todas estas situações. Podia tê-las evitado mas nunca o fez. Já tinha uma história de bullying anterior (subentendida) mas, mudando de cidade, mudando de escola... os problemas seguiram-na. Por que será? Será que as pessoas foram atrás dela? Ou foi ela que levou as mesmas atitudes com ela, onde quer que fosse?

A co-responsabilidade é o que nos coloca no meio das situações de bullying e também é o que nos retira delas. Só quando percebemos que tivemos um papel em tudo o que nos aconteceu e vai acontecendo, só quando isso acontece é que recuperamos o nosso poder (que damos aos outros quando os acusamos de tudo) e finalmente aprendemos com as situações.

Foi isto que aprendi durante estes anos em que fiz de "Vítima" profissão.

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