Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A fonte


Foi descoberta um dia, uma fonte. Era pura. Estava rodeada de árvores, tudo do mais verde que pode existir. Os pássaros cantavam livremente. As pessoas iam lá beber água para se refrescarem e matarem a sede. Os animais e as pessoas não se temiam. Coexistiam.
Inconscientemente, as pessoas começaram a fazer pedidos enquanto lá estavam. Pediam por Amor e saúde. Não só para elas, mas para tod@s aqueles que amavam. Pediam também paz. A fonte começou a ser bastante falada porque realmente havia qualquer coisa nela de extraordinário. Os desejos realizavam-se...
Todos os dias formavam-se filas e filas de gente que ia lá fazer os seus pedidos. Mas os pedidos de alguma forma começaram a alterar-se. Havia uma criança que vivia perto da fonte e se apercebeu do que estava a passar. E avisava quem lá ia. - Cuidado com o que desejam... - De entre estas pessoas havia as que pediam bens materiais e o mal para outros. - Cuidado com o que desejam... – Avisava a criança. Ela mantinha-se ao lado da fonte, limpava o que lá deixavam de plásticos e papéis. Os pássaros e outros animais começaram a evitar aquele local. O silencia reinava, o cinzento também. A fonte parecia estar a mudar. Tinha menos água e não refrescava como antes. As pessoas notaram, mas nada fizeram. Pelo contrário, continuavam com os seus pedidos de vingança para com quem as havia magoado no passado e no presente.
A criança continuava lá a cuidar da fonte e a avisar as pessoas. Um dia a fonte parou de dar água. Mas ouvia-se um ruído dentro da montanha que se tornava mais forte. Houve quem pensasse – Vem aí a minha fortuna, aquela por que tanto esperei! É o ouro! É o barulho das moedas dentro da montanha!
A fonte recomeçou a verter água. Desta vez com mais força, como que para lavar tudo e tod@s à sua frente. A força era tanta que as pessoas eram arrastadas encosta abaixo. Assustadas, estas gritavam e tentavam fugir o mais depressa que podiam. A criança seguiu as águas. A corrente não parecia afectá-la. À sua volta a água era mansa, apenas lhe tocava a sola dos pés.
Na corrente as pessoas eram levadas de qualquer jeito, não importava o quanto se agarrassem a postes nas ruas ou se escondessem, a água levava-as. No entanto carros estacionados nas ruas, bicicletas nem se moviam. Por cima de cada pessoa aparecia um diabinho com um martelo e batia-lhes na cabeça com ele. Quanto mais agressivas eram, mais apanhavam. E eles riam-se!
A criança falava com as pessoas histéricas – Não tenham medo! Não sejam agressivos que a água nada vos fará, aceitem! Amem! – As pessoas continuaram a ser levadas e tudo ficou limpo.
Em cada cidade e aldeia do Mundo tinha aparecido uma fonte dos desejos... E o Mundo regenerou-se.