Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Impressão digital




O que é feito da minha impressão digital?
O que sou eu, quando não há ninguém à minha volta?
Quem sou eu?

Se eu fosse uma flor, transformar-me-ia numa árvore, num céu, em erva, em insectos e seria a própria Natureza. Mas para as flores isso é mais fácil de aceitar (se é que têm de aceitar alguma coisa), porque elas já fazem parte da Natureza.
 Eu, no máximo, posso confundir-me nas multidões, e transformar-me multidões, e ser multidões. Mas eu sou seu. Não sei o que sou e tenho consciência disso. Perco-me em tudo o que vejo e oiço. Se ao menos me perdesse na Natureza... não seria tão grave, porque foi a condição primeira do homem.
Hoje, andamos engravatados, vestidos, engavetados, fardados, mascarados. Imitámo-nos e não sabemos quem somos. É muito fácil. Livrámo-nos de pensar e de ser. Rimos quando nos mandam e fazemos amor por contágio.

Se oiço Prince, logo danço como ele e canto como ele.
“Vejo” Picasso, e logo raciocino aos quadrados!

Não me interessa olhar as estrelas e sê-las falsamente em mim.
Se me vir ao espelho, não me reconheço e nem me sei imitar. Sou o nada em pessoa. Uma bola, que de tão geometricamente perfeita não tem nada e no nada subsiste. E aqui estou. Fecho-me em mim e internam-me por enlouquecer na minha fútil existência. Ainda mais passivamente vivendo, seguiria, convencida de ser louca, comportando-me como tal e por ter como exemplos exteriores essa “chamada” insanidade.

Quero ser eu e reconhecida como tal.
Passar pelos pássaros e eles não terem medo de mim por me verem diferente das outras pessoas.

Queria ser original, una.
Um eu como não haveria outro igual, nem mesmo imitável, fotografável ou... consciencializável!

Mentir e saber-me bem!

Deliciar-me ao reparar no “engano” de dizer nascer, em vez de acordar de manhã... e nascer sempre!...
Ah! Como era bom ver a minha impressão digital!

91.03.25