Tilintam. Sabem ao que vão.
Soam ansiosas. Os olhos confirmam o caminho. As chaves também. Tilintam. Preparam-se.
Cada passo tling, depois tlang. Depois tic, depois tac.
Irritantemente metal.
Depois o coração, a pouco e pouco comuta o marca-passos. A respiração acompanha. Pesa nas escadas, em cada degrau.
tic, tac tling, tlang.
Automático.
Irritantemente frio.
Não há voltar atrás. São as chaves que o dizem. São as mestras que ditam onde estou, onde vou.
A cabeça ficou no ontem. Recusa-se a avançar. A aceitar o ali, aqui. Quer voltar e não pode.
- Não é possível. Fizeste uma escolha!
tling, tlang... tic, tac
As pontas dos dedos lembram-se, ao percorrer cada chave, qual a que vai selar o futuro próximo. Os dias e meses próximos.
- Não há outra maneira?
- Para já não.
O diálogo surdo da mente continua, cego às escadas.
tic, tac
Irritantemente real.
As chaves caem. Os dedos na última tentativa de resistir à realidade...
tic, depois tac...
tic, tac
O tling e tlang atados nos dedos. Sabem que de seguida se soltarão. Não têm que fazer nada. Há uma rotina. Uma chave apenas que avança. Polegar e indicador conhecem-na. Apontam-na. Ah! Espada ingrata. Vais directa à fechadura.
Não entres!
Não!
A ferida aceita a espada. E não é ela que sangra...
A porta abre-se. As chaves tilintam mais uma vez agora abandonadas no seu crime... Entro. Os rostos reencontram-se. Os olhos reconhecem-se. Um sorriso forma-se em cada lábio para se encontrarem.
tic...
O tempo não pára. Param os desejos que ficam por atrás da porta. Lá fora. E dentro, fica a realidade. Assim.
tac...