Trabalho de Ilaria Margutti
Sinto os pés e os pensamentos, antagonistas em si, no calor e na falta deste, nos sentimentos que provocam.
Busco a mão. Aquela mão que desde há anos me aquece de calor corpóreo e, não sendo ela toda um corpo, aquele corpo que dorme a meu lado, aquece-me por emprestar-se.
Pela primeira vez noto que existe mais ali que uma mão – objecto fechado em si, botão protector do que poderia conter, agarrar – eu, mas não agarra. Não, é mais que isso. É um coração em si. Quenta, pulsa, toma conta da consciência que se diz minha. Emana calor humano que, talvez por inveja, faz com que o meu coração, esse sim, talvez, verdadeiro, bata mais forte e por, sim, inveja, sim, se faça ouvir agora, forte.
Os pensamentos esqueceram-se-se por fim, tal como o sono. Apenas o calor se espraia juntamente com a vontade de escrever finalmente concretizada depois de dias a adiar a verdade.
Sim. Digo adiar a verdade porque é só o que sei escrever (excepto quando escrevo mentiras para me enganar – e conheço-as todas!). Tudo o que vem do coração – aquele de dentro do peito – só pode ser verdadeiro mesmo que doa.
A mente, im-explicitamente, mente.
Deixo a mão emprestada, qual peluche caído dos braços de uma criança. Deixo-a abandonada e levanto-me.
Sinto-me egoísta. Que sinto eu?
Agora que a mão fez o seu dever de aquecer, ficou no destino que é seu. Abandono? Voltou a mão?
Poderá um dia essa mão, delicada e quente, perdoar este abandono? A troca?
Mas pergunto: a mão que não agarra é mão?
Só posso escrever a verdade...
0 comentários:
Enviar um comentário