Na madrugada passada fiz uma coisa muito gira. "Madrugada" porque troquei de novo as voltas às horas de dormir. É costume meu. Qualquer dia transformo-me num felino!
Mas voltando ao que estive a trabalhar... Quase desisti porque não estava a correr bem.
Estava a tentar fazer umas coisas (não posso contar para já!) em maçapão. Ficava tudo colado nas mãos e não havia forma de controlar aquilo. Digamos que faz uns anitos que não brinco com plasticina ou barro, embora, no curso de conservação e restauro de madeira tenha esculpido. Trabalhar em madeira tem que se diga, mas adorei.
E maçapão? Comprei umas cores e maçapão de cor neutra. Embebi-o nas cores necessárias e comecei. A frustração, outro nome para “desafio”, começava a fazer das dela. Lambia os dedos antes de os lavar e começar de novo. Estava perante um desafio que não tinha a certeza de poder vencer. Às vezes a questão não é bem "vencer", a questão é "tentar até conseguir" ou simplesmente “tentar”. Se não conseguirmos, tudo bem. Pelo menos tentamos. É porque não era para conseguir.
Tinha uma ideia na cabeça, mas vi que não ia funcionar. Cada material tem as suas especificidades. Precisava de saber quais as deste. Logo, logo me fui apercebendo de algumas.
Mais tarde, quase a desistir e a dar-me por "vencida", decidi tentar outra maneira de pegar no material. Decidi trabalhar nele como se fosse plasticina!
Sem receio... sem muito receio... tentei outra vez. Se não ficasse bem, pelo menos poderia comer maçapão de várias cores! O sabor da "derrota" não precisa ser mau!
Só que desta vez comecei a ver os frutos da minha teimosia. Sim, porque sou bastante teimosa, embora também saiba desistir.
Cheguei ao fim da noite com um resultado que considero satisfatório! Estou vaidosa pelo feito!
Há que reconhecer quando a teimosia nos vale.
As virtudes existem sob variadas formas. Por vezes tratamo-nos por "chat@s" e "teimos@s" quando, bem aplicada esta energia, nos transforma em "empreendedores", "aplicad@s", “PERSISTENTES”...
Olhar para um copo e vê-lo meio vazio ou meio cheio diz mais do observador do que do copo. Gostamos que nos vejam de maneira agradável (e temos primeiro que saber o que é agradável para nós – é sempre decisão nossa) e quando as pessoas apenas nos vêem como elas próprias são, para bem ou para mal, ficamos assustados. Pensamos que, na realidade, as pessoas estão a falar de nós. Nunca poderemos controlar como os outros nos vêem, mas podemos sempre sentir-nos bem connosco. Podemos mudar a nossa maneira de ver a água no copo. Aqui ninguém pode mexer! Dá-nos tanta força que até com o Mundo a cair sobre nós, nós sabemos que fizemos o nosso melhor e estamos bem com isso. É e foi sempre assim que pessoas que fazem o Mundo girar actuaram. Estavam correctos e sabiam-no. Isso bastava para lhes dar a força necessária para ser.
Porque damos tanta atenção quando nos dizem palavras que nos magoam? Quando nos chamam de “chat@s”, por exemplo... Porque tememos serem verdade? A verdade, essa, é que somos tudo aquilo que nos chamam e mais! Também conseguimos ser todo o contrário do mesmo. Se pensarmos em situações que justificam um lado e outro vamos poder encontrá-las sempre. Quando tenho medo de não conseguir fazer algo, como na noite anterior, a memória vai buscar episódios na minha vida com que justificar o que procuro. Se tento buscar na memória exactamente o contrário, a mente encontra-os de certeza porque os tem.
Acho engraçado quando as pessoas me dizem que tenho muita autoconfiança! Tenho tanta como qualquer outra pessoa e insegurança também, na mesma medida. A insegurança ajuda-me a ser mais forte. A buscar em mim a maneira de superar as dificuldades. E a autoconfiança a ser mais sensível pois posso ficar alojada nela e nunca mais desenvolver as minhas capacidades. É isto que estou a aprender na vida. Tudo são lições. Tudo são passos para ser quem sou. E não há passos errados. Há passos para dar, até ficar no mesmo lugar é decisão. É uma passo na vida. Por tudo o que fazemos seremos responsáveis. Só nós.
É muito generoso e reconfortante saber isso. Quando ficar triste por algo que acontece, sou eu quem o decide, mais ninguém. E é por isso que acho engraçado quando vêem tanta autoconfiança em mim. É mudança de discurso, mudança de atitude. É simplesmente saber que se quero, há-de haver uma maneira para conseguir. E se não acontecer, é porque há planos diferentes na vida.
Se tanta gente passa pelas mesmas questões. Convenhamos que não há situações que aconteçam apenas a uma pessoa neste mundo... Acontece-nos tudo o que acontece à humanidade. Mas nós decidimos ficar tristes quando nos acontece a nós. Outras pessoas reagem de outras maneiras perante os desafios exactamente iguais. Porquê? As sendas da memória...
Este foi um trabalho, em castanho, esculpido enquanto frequentava o curso de conservação e restauro de madeira. Não foi para avaliação, foi para mim que o fiz. Demorou, mas consegui perante a incredulidade dos colegas. Um desafio no qual a teimosia ajudou, apenas a transformei em persistência!
