Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

sábado, 5 de março de 2011

William Blake - Auguries of Innocence

 
To see a world in a grain of sand,
And a heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour.

A robin redbreast in a cage
Puts all heaven in a rage.

A dove-house fill'd with doves and pigeons
Shudders hell thro' all its regions.
A dog starv'd at his master's gate
Predicts the ruin of the state.

A horse misused upon the road
Calls to heaven for human blood.
Each outcry of the hunted hare
A fibre from the brain does tear.

A skylark wounded in the wing,
A cherubim does cease to sing.
The game-cock clipt and arm'd for fight
Does the rising sun affright.

Every wolf's and lion's howl
Raises from hell a human soul.

The wild deer, wand'ring here and there,
Keeps the human soul from care.
The lamb misus'd breeds public strife,
And yet forgives the butcher's knife.

The bat that flits at close of eve
Has left the brain that won't believe.
The owl that calls upon the night
Speaks the unbeliever's fright.

He who shall hurt the little wren
Shall never be belov'd by men.
He who the ox to wrath has mov'd
Shall never be by woman lov'd.

The wanton boy that kills the fly
Shall feel the spider's enmity.
He who torments the chafer's sprite
Weaves a bower in endless night.

The caterpillar on the leaf
Repeats to thee thy mother's grief.
Kill not the moth nor butterfly,
For the last judgement draweth nigh.

He who shall train the horse to war
Shall never pass the polar bar.
The beggar's dog and widow's cat,
Feed them and thou wilt grow fat.

The gnat that sings his summer's song
Poison gets from slander's tongue.
The poison of the snake and newt
Is the sweat of envy's foot.

The poison of the honey bee
Is the artist's jealousy.

The prince's robes and beggar's rags
Are toadstools on the miser's bags.
A truth that's told with bad intent
Beats all the lies you can invent.

It is right it should be so;
Man was made for joy and woe;
And when this we rightly know,
Thro' the world we safely go.

Joy and woe are woven fine,
A clothing for the soul divine.
Under every grief and pine
Runs a joy with silken twine.

The babe is more than swaddling bands;
Every farmer understands.
Every tear from every eye
Becomes a babe in eternity;

This is caught by females bright,
And return'd to its own delight.
The bleat, the bark, bellow, and roar,
Are waves that beat on heaven's shore.

The babe that weeps the rod beneath
Writes revenge in realms of death.
The beggar's rags, fluttering in air,
Does to rags the heavens tear.

The soldier, arm'd with sword and gun,
Palsied strikes the summer's sun.
The poor man's farthing is worth more
Than all the gold on Afric's shore.

One mite wrung from the lab'rer's hands
Shall buy and sell the miser's lands;
Or, if protected from on high,
Does that whole nation sell and buy.

He who mocks the infant's faith
Shall be mock'd in age and death.
He who shall teach the child to doubt
The rotting grave shall ne'er get out.

He who respects the infant's faith
Triumphs over hell and death.
The child's toys and the old man's reasons
Are the fruits of the two seasons.

The questioner, who sits so sly,
Shall never know how to reply.
He who replies to words of doubt
Doth put the light of knowledge out.

The strongest poison ever known
Came from Caesar's laurel crown.
Nought can deform the human race
Like to the armour's iron brace.

When gold and gems adorn the plow,
To peaceful arts shall envy bow.
A riddle, or the cricket's cry,
Is to doubt a fit reply.

The emmet's inch and eagle's mile
Make lame philosophy to smile.
He who doubts from what he sees
Will ne'er believe, do what you please.

If the sun and moon should doubt,
They'd immediately go out.
To be in a passion you good may do,
But no good if a passion is in you.

The whore and gambler, by the state
Licensed, build that nation's fate.
The harlot's cry from street to street
Shall weave old England's winding-sheet.

The winner's shout, the loser's curse,
Dance before dead England's hearse. 
 
 
 
Every night and every morn
Some to misery are born,
Every morn and every night
Some are born to sweet delight.

Some are born to sweet delight,
Some are born to endless night.

We are led to believe a lie
When we see not thro' the eye,
Which was born in a night to perish in a night,
When the soul slept in beams of light.

God appears, and God is light,
To those poor souls who dwell in night;
But does a human form display
To those who dwell in realms of day.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Mundo das Árvores


- Bom dia, senhor Acácia!
- Muito bom dia, senhora Acácia!
- Pronta para mais um dia de trabalho?
- Sempre! Vamos render agora o turno. O Sol já quer nascer...
- É. Férias é só para quem pode.

Os senhores e as senhoras Acácia estavam sempre muito ocupados com os seus afazeres. Trabalhar com a terra era tarefa árdua, ainda mais quando esta pouco colaborava com nutrientes ou os céus faltavam com a chuva. Faziam o melhor que podiam, a cada dia que nascia. Afinal, tinham herdado de seus pais, não só o ofício, como a capacidade e amor àquela arte.

Obstinadas, conduziam os milhões de trabalhadores que baixo as suas colocações, haviam de cumprir as ordens do dia. As auto-estradas sempre ocupadas, mas nunca, nunca congestionadas, transportavam os produtos transformados e por transformar. A organização tinha de ser perfeita para que a cidade, corpo do ser, funcionasse e cumprisse o seu destino. As raízes subtraíam a matéria-prima que, em fileira, de baixo para cima, sem desperdício quer de tempo, quer de materiais, seguia para os escritórios e daí, para o resto da árvore. As células-escritório, peritas em organização empresarial, distribuíam tudo sem favorecimentos. A árvore, alter-ego da cidade, exigia que todos trabalhassem para o bem do um. Isto supunha que, dependendo das necessidades actuais, as respostas deviam estar à altura. Não havia lugar a reclamações ou greves. Já sabiam que todos ganhavam igual e trabalhavam também em igual medida, em turnos que apenas variavam segundo as estações do ano. Se bem que no inverno descansavam um pouco mais, no verão, a produção aumentava. A produção de flores seguida dos frutos, o aumento de horas de luz assim o ditavam, assim tinha de ser. Em especial os aeroportos - com a respiração na noite diminuída, a criação de oxigénio aumentava com as horas do dia a alongarem-se, para além da admissão de novos insectos. Uns ficavam apenas para almoçar ou tomar um pouco de sol, mas havia os que ficavam numa estadia mais prolongada, o que significava igualmente mais trabalho para as secretárias nas células. A recepção dos hotéis da cidade tinha de funcionar ordenadamente, os casos de sobrelotação estavam listados a vermelho e trabalhadores eram severa e invariavelmente advertidos caso alguma falha acontecesse. As ordens eram claras: 

- Insectos de porte maior, devem ser deixados cair dos aeroportos e a sua estadia proibida. Outros animais devem ser expulsos caso não tenham contrato firmado com alguma das fábricas da cidade e se se recusarem a ir, mão-de-obra especializada na defesa – apenas trabalhadores temporários com autorização de residência – devem ser chamados a actuar. 

As formigas e outros insectos, bastante profissionais por sinal, recebiam à comissão e quando este método não funcionava o ataque químico revelara-se bastante eficaz; que o dissessem as girafas que ignoraram os avisos dos espinhos... A enérgica acção de defesa das Acácias que se seguira fora radical. O serviço de mensageiros, entre entidades arborícolas, actuara na perfeição e dera aos generais a maior vitória das suas vidas. Não estivessem agora a desempenhar outras funções, ainda hoje estariam a festejar essa glória – a queda dura do inimigo.


Ainda que com tanto trabalho, a vida conseguia ser bastante agradável. Não era nada como a daquelas árvores nas cidades em que os ramos serviam para vandalizar, eixo de baloiços e marco de namorados. O cúmulo dos cúmulos acontecia quando as folhas caídas lhes eram retiradas dos solos, em vez de retornarem pela decomposição, à árvore-mãe... As notícias que por vezes ouviam, contadas pelos ventos, eram tenebrosas... Segundo o que se contava, árvores havia que, por dizerem não servirem para nada, eram sacrificadas sem qualquer sinal de apreço por serviços prestados. Por isto mesmo, todas as árvores vizinhas e não só, tentavam o mais que podiam, fazer horas extraordinárias. Era uma vida de sacrifício. As únicas alturas em que se permitiam um pouco de prazer, era durante os festivais de Primavera e Outono. Nessas alturas era vê-las, todas aperaltadas, vaidosas. Cada qual a mais bonita. Gabavam-se de ter fotógrafos e artistas a admirá-las e faziam-se ainda mais bonitas, como se possível fosse.

Mas tão-pouco se perdiam nesses apreços passageiros perante o muito tinham que fazer. As reparações constantes tanto da cidade interior como exterior e as mudanças de escritório pois estes ficavam disfuncionais se não actualizados, preenchia o tempo disponível que poderiam ter para desfrutar até dos seus novos produtos que se esforçavam por criar. “Suco de clorofila” era a novidade do Verão e as campanhas publicitárias começavam agora a arrancar.
 
“Quer sentir-se fresco e bem este Verão?
Beba “Suco de Clorofila”. A sua regeneração!”