Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

No Centro de Nós

Cai água salgada dos meus olhos. Cai continuamente.
O Mundo é todo um concerto orquestrado por Deus e nós somos os instrumentos.
A música é divina. Nós somos divinos. Não acreditem no contrário, nunca!
Somos parte d'Ele. Como poderíamos não ser divinos?

Da última vez que estive em Portugal, há poucas semanas atrás, comprei uns DVDs. Comprei quase à sorte. Eram uns DVDs baratinhos, de uma revista qualquer. Sabia que regressava à Alemanha em breve e que havia uma grande probabilidade de ficar no aeroporto "encalhada". Comprei-os porque ADORO cinema. Foi uma das escolhas que fiz quando coloquei as hipóteses no papel para a faculdade.  

Entrei para pintura na faculdade do Porto. Era esse o meu caminho na altura. Deixei-o incompleto. Havia ali uma paleta que me doía no coração, na alma... Deixei de pintar. Quase morri. Deixei de escrever. Foram mais de 10 anos em que quase deixei de existir. Perdi-me. Mas só se pode encontrar quem se perde.  

Toda a minha vida procurei pela canção do meu coração. Olhava as estrelas. Dançava com elas. Ia para o telhado e via-me n'elas. Somos gémeas. Sim, somos gémeas. É de lá que venho. Sei-o. Sempre ouvi a sua música. Sempre falei com elas.

Acabei de ver um dos filmes que comprei naquele dia, no Porto. No aeroporto vi o "Copying Beethoven". Irritou-me a interpretação de alguns dos actores. Mas há uma interpretação que marca e vale a pena ver o filme só por isso. Ed Harris. Ele brinca Beethoven. É genial! Ele é Beethoven! Tal como eu sou Beethoven! Quando era criança, queria tocar música. Mas não era a música a minha expressão.  Pelo menos, não daquela maneira.

Via os filmes com o Fred Astaire e era tanta a música dentro de mim que tinha de a soltar. Ia para o quintal dançar sem fim. Criava as mais loucas coreografias. Era eu. Encontrava-me. Encontrava-me com Deus. Era Deus. Via os filmes com Elvis Presley e de novo... Dançava, cantava.  

Cantava no coro da igreja. Era quase só por isso que gostava de ir. Conhecia o Mundo através da música. Conhecia-me através da criação. Era como me encontrava e podia Ser sem falhas.

Quando estava na faculdade e tinha de seguir o que os professores diziam, era só falhas que eu era. A minha vida era uma grande falha. Onde estava eu? Estava onde o meu coração me deixara naquele dia do meu primeiro beijo... Nasci e morri nesse dia. Amar é deixar ir... quando não se luta - não gosto desta palavra... Fui para a universidade como se vai para um enterro. Era o meu enterro.

Gosto de escrever durante a madrugada porque é quando me encontro. Encontro-me no silêncio dos outros. Preciso deste silêncio. Encontro Deus assim. Como pode ser de outra maneira?

Vi o filme sobre Beethoven e vi-me. Vi a minha força lá espelhada. A força que atrasei. Conti. Chega!

Vi agora o filme "August Rush". É a história de um rapaz que não deixou que o calassem. Não sei se que história é verídica. Que interessa? Voltei a encontrar-me lá.

Sei que há sempre lugares onde nos podemos encontrar e não são todos físicos. No "coração" é geralmente um bom local para nos encontrarmos. Fechar os olhos e sentir a nossa alma. Deixar os gritos saírem, tocarem-nos. Deixar o que tiver de ser, sair.  

Quando era criança fiz teatro adorei e assustei-me. Quando era criança pisei um palco onde toquei piano e adorei. Quando era criança escrevi uma redacção e encontrei-me. Quando era criança desenhei e percebi a força de uma simples linha. Quando era criança saltava frente ao televisor para aguentar e não ir à casinha e perder um segundo que fosse dos filmes, ainda que fosse intervalo. Quando era criança fiz os meus documentários mesmo ao lado do David Attemborough e do Jacques-Yves Cousteau, lá no quintal. Quando era criança dancei com o Fred Astaire e as estrelas.

Vi agora um dos outros filmes que comprei em Portugal. Acho que o comprei lá para agora poder compreender toda a amplitude do que vi, já que estes filmes estão legendados. E tudo se conjuga.  

Estou a ler "Conversas com Deus". O primeiro livro. E está lá tudo. Estou a receber os sinais. Está tudo certo.  

Não sei o que está para lá da curva. As curvas da vida são sempre muito generosas e levam-nos sempre a nós.

Uma vez perguntaram-me, a minha editora, o que me vejo fazer daqui a uns anos. Não sei! Vejo-me a seguir-me. É uma resposta? Sim. É a única resposta que sei dar. Foram muitos anos a esquivar-me. E a vida perseguia-me sempre. Tinha medo da vida. E ainda tenho... um pouquinho! Que fazer? Foram muitos anos a aprender o medo. Falta cumprir o AMOR.

O AMOR é o único antídoto do medo, sabiam? É verdade! E a vida é sempre muito generosa a mostrar-nos o AMOR e como podemos chegar a ele. Ele está no meio de nós. LOLOLOLOLOL Conheço esta frase!   Ouvi-a muitas vezes na missa! É lá que está Deus. É lá que estamos nós. No nosso centro. Where else?

É engraçado, que tudo o que estou a ler, com poucas excepções, já o sabia. Já o sei. É tudo tão intuitivo! Não foi tudo encontrado dentro de mim. Foi um anjo que encontrei que me ajudou a recordar. Foi o Emídio! Tenho recebido muitos anjos na minha vida. É Deus que mos envia. Sabe que preciso muito deles para aprender. Porque me esqueci.  

Está tudo muito, muito certo!

Falta ver o terceiro filme. Vou deixar para outro dia. Sei que também me vai ajudar a deixar-me ir. Sei que vou chorar! São assim os melhores filmes, pelos vistos! Levam-nos a nós. Quando libertamos as emoções chegamos mais perto de Deus.

Aquela mulher no Porto, a que me deu os DVDs para a mão era um anjo! Eram os DVDs perfeitos!
A sincronicidade do Mundo é maravilhosa!
O DVD continua a tocar a música do filme - "someday we'll be together..."
Sim! Um dia irei deixar de me sentir sozinha. Já falta pouco! Sei qual é a falta que sinto. É Deus. Sei onde o procurar - em mim. Sei como fazê-lo criando. Escrevendo.

Sempre fui muito solitária e nunca gostei de seguir os outros. Sou bastante difícil nesse campo. Por isso nunca consegui seguir ninguém ou grupo, ou clube. No máximo, sigo o que algumas pessoas fazem ou vão fazendo. Aprendo o que tiver a aprender com elas. Mais anjos! Não sei se elas alguma vez aprenderam alguma coisa comigo. Estou aqui para aprender e tenho ainda muito caminho pela frente. Apenas sei que estou no caminho certo. Caminho para Deus. Tudo o "resto" encaminha-se.

Um dia, estava a dormir e acordei. Não sabia que horas eram e pensei em voltar a adormecer. Mas ouvi uma voz. Ela dizia – Don’t go back to sleep. Listen to the music inside of you. Don’t go back to sleep!
Não voltei para a cama. Fiquei mais atenta e tomei nota das ideias que me faltavam para escrever os capítulos mais lindos que alguma vez poderia ter escrito. Não poderiam ter sido escritos de outra maneira.
Tudo o "resto" encaminha-se.




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