Onde começas tu?
Sei que estás aí, para lá da areia, percorro o teu corpo, saboreio-te na alma e sentidos mas não te encontro o começo.
Pergunto-me se é necessário. Nós os humanos gostamos de organizar tudo. Queremos saber para controlar, talvez. E tu, alheio a tudo, vives a tua vida sem olhar para nós. E nós que vamos sempre ter contigo... Não nos queres!
Por vezes brincas connosco. Agarras quem desrespeita a tua soberania com a monstruosa mão indefinida duma onda. Queres mostrar-nos quem manda? Tu. Tu mandas! E mandas como uma criança que busca um brinquedo para o decifrar. Queres! Brincas com ele e satisfeito ou por o brinquedo estar já partido e morto, deita-lo fora, abandonado numa qualquer areia à tua escolha. Viras costas. Vais simplesmente, não sei onde e deixas-nos brincar, agora nós, nas tuas rochas. E esfregamo-las com nossos pés. Limpamo-las dos mexilhões que te irritam a pele. Um passo em falso e castigas-nos! Pareces manso, deixas as nossas crianças cavalgar no teu dorso, os adultos de ti se alimentarem – corpo e alma – mas tu serás sempre tu. Sem contemplações.
Engoles-nos nos sonhos e nas marés. Envias os teus servos a espiar-nos enquanto nadamos...
Nós sabemos – és senhor!
E ordenas!
Nós, teus humildes admiradores, baixamos a cabeça perante a tua presença ou pagamos. O teu preço... A Vida... És lord e senhor... Inclino-me perante ti.
Não se brinca com os Deuses!...
Mar meu...
2 comentários:
Por vezes, também é possível brincar com os deuses. Basta que eles assim o queiram.
Houve alguém que disse:
-Só se respeita os iguais.
Salvo erro foi Frank Herbert em "Dune".
Os deuses, se brincarem connosco, talvez esperem a nossa contínua subserviência, não a troca de papéis!
Marionetas, todos nós!
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