Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Meu Mar

Onde começas tu?
Sei que estás aí, para lá da areia, percorro o teu corpo, saboreio-te na alma e sentidos mas não te encontro o começo.
Pergunto-me se é necessário. Nós os humanos gostamos de organizar tudo. Queremos saber para controlar, talvez. E tu, alheio a tudo, vives a tua vida sem olhar para nós. E nós que vamos sempre ter contigo... Não nos queres!
Por vezes brincas connosco. Agarras quem desrespeita a tua soberania com a monstruosa mão indefinida duma onda. Queres mostrar-nos quem manda? Tu. Tu mandas! E mandas como uma criança que busca um brinquedo para o decifrar. Queres! Brincas com ele e satisfeito ou por o brinquedo estar já partido e morto, deita-lo fora, abandonado numa qualquer areia à tua escolha. Viras costas. Vais simplesmente, não sei onde e deixas-nos brincar, agora nós, nas tuas rochas. E esfregamo-las com nossos pés. Limpamo-las dos mexilhões que te irritam a pele. Um passo em falso e castigas-nos! Pareces manso, deixas as nossas crianças cavalgar no teu dorso, os adultos de ti se alimentarem – corpo e alma – mas tu serás sempre tu. Sem contemplações.
Engoles-nos nos sonhos e nas marés. Envias os teus servos a espiar-nos enquanto nadamos...
Nós sabemos – és senhor!
E ordenas!
Nós, teus humildes admiradores, baixamos a cabeça perante a tua presença ou pagamos. O teu preço... A Vida... És lord e senhor... Inclino-me perante ti.
Não se brinca com os Deuses!...
Mar meu...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mãe

Hoje afirmei algo que não gostei.
Não o repetirei, não! Uma vez foi demais.
E pergunto a ti, a mim, porque tenho de ser a mulher adulta quando continuo aninhada no teu ventre bebendo do leite materno que me davas? Ainda o busco e alimento-me da sua saudade.
Sigo sem lutar por ti, esperando que adivinhes a minha necessidade dos teus abraços e tu, mãe, segues adivinhando que não te preciso e fujo de ti.
Como podemos correr no mesmo sentido, passarmos uma pela outra e não nos vermos? Seremos tão iguais que nos confundimos uma à outra como num espelho? Só assim o explico.
Só assim explico a minha afirmação de hoje, mãe. Fito os teus olhos na minha memória. Vejo as lágrimas derramadas anos atrás por minha culpa. E perguntei-te, mãe, mesmo sabendo da sua razão, perguntei-te porque choravas. Queria tanto dizer-te, queria tanto explicar-te, mãe, que te procuro em todas as mulheres mais velhas que eu, e busco a sua atenção e carinho, mãe... Porque te amo a ti mãe! Preciso é mais de ti, mãe...
Preciso que me dês a tua voz, o teu carinho, o teu amor, a tua atenção... Preciso que me dês o teu silêncio, o teu afastamento, a tua crítica e o teu coração... O teu total. Não te dividas em mim, mãe. Sê em mim.
Alimenta-me!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Nuvens

Sou perseguida por elas.


DEIXEM-ME!



Não sou o Sol que quereis tapar

Sou apenas alguém que quer brilhar...



Deixem-me Ser

Deixem-me seguir o destino que me quer!



Sou pequena para vos afrontar

Encho os pulmões de ar para vos derrotar...



Vá! Ide, ide!

Não tereis também aonde ir?

Deixem-me aqui,

A sós...



O brilho que produzo é suficiente para os meus sonhos.

Para quê tanto esforço em destruí-lo?

Inveja por não poderem sonhar?

Por apenas andarem a vaguear?



Peçam ao vento que vos abrigue

Que vos acaricie!



Mal amadas é o que sois!

Quereis amaldiçoar quem o Sol quer tomar!

Vá! Ide, ide!



Vá, ide que chamarei eu o vento e vos fará em nada.

Vá, que nada sois, apenas em chuva vos tornais!



Vá, vá, vá!

"Gaia, Géia ou Gê era a deusa da Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora quase absurda. Segundo Hesíodo, ela é a segunda divindade primordial, nascendo após Caos.



Tal como Caos, Gaia parece possuir uma natureza forte, pois gera sozinha, Urano, Pontos e as Montanhas. Hesíodo sugere que ela tenha gerado Urano com o desejo de se unir a alguém semelhante a si mesma em natureza. Isso porque Gaia personifica a base onde se sustentam todas as coisas, e Urano é então o abrigo dos deuses "bem-aventurados".



Com Urano, Gaia gerou os 12 Titãs, após, os Ciclopes e os Hecatônquiros (Gigantes de Cem Mãos). Sendo Urano capaz de prever o futuro, temeu o poder de filhos tão grandes e poderosos e os encerrou novamente no útero de Gaia. Ela, que gemia com dores atrozes sem poder parir, chamou seus filhos Titãs e pediu auxílio para libertar os irmãos e se vingar do pai. Somente Cronos aceitou. Gaia então tirou do peito o aço e fez a foice dentada. Colocou-a na mão de Cronos e os escondeu, para que, quando viesse Urano, durante a noite não percebesse sua presença. Ao descer, Urano, para se unir mais uma vez com a esposa, foi surpreendido por Cronos, que atacou-o e castrou-o, separando assim o Céu e a Terra. Cronos lançou os testículos de Urano ao mar, mas algumas gotas caíram sobre a terra, fecundando-a. Do sangue de Urano derramado sobre Gaia, nasceram os Gigantes, as Eríneas e as Melíades.



Após a queda de Urano, Cronos subiu ao trono do mundo e libertou os irmãos. Mas vendo o quanto eram poderosos, também os temia e os aprisionou mais uma vez. Gaia, revoltada com o ato de tirania e intolerância do filho, tramou uma nova vingança.



Quando Cronos se casou com Réia e passou a reger todo o universo, Urano lhe anunciou que um de seus filhos o destronaria. Ele então passou a devorar cada recém-nascido por conselhos do pai. Mas Gaia ajudou Réia a salvar o filho que viria a ser Zeus. Réia então, em vez de entregar seu filho para Cronos devorar entregou-lhe uma pedra, e escondeu seu filho em uma caverna.



Já adulto, Zeus declarou guerra ao pai e aos demais Titãs com a ajuda de Gaia. E durante cem anos nenhum dos lados chegava ao triunfo. Gaia então foi até Zeus e prometeu que ele venceria e se tornaria rei do universo se descesse ao Tártaro e libertasse os três Ciclopes e os três Hecatônquiros.



Ouvindo os conselhos de Gaia, Zeus venceu Cronos, com a ajuda dos filhos libertos da Terra e se tornou o novo soberano do Universo. Todavia, Zeus realizou um acordo com os Hecatônquiros para que estes vigiassem os Titãs no fundo do Tártaro. Gaia pela terceira vez se revoltou e lançou mão de todas as suas armas para destronar Zeus.



Num primeiro momento, ela pariu os incontáveis Andróginos, seres com quatro pernas e quatro braços que se ligavam por meio da coluna terminado em duas cabeças, além de possuir os órgãos genitais femininos e masculinos. Os Andróginos surgiam do chão em todos os quadrantes e escalavam o Olimpo com a intenção de destruir Zeus, mas, por conselhos de Têmis, ele e os demais deuses deveriam acertar os Andróginos na coluna, de modo a dividi-los exactamente ao meio. Assim feito, Zeus venceu.



Em uma outra oportunidade, Gaia produziu uma planta que ao ser comida poderia dar imortalidade aos Gigantes; todavia a planta necessitava de luz para crescer. Mas ao saber disto Zeus ordenou que Hélios, Selene, Éos e as Estrelas não subissem ao céu, e escondido nos véus de Nix, ele encontrou a planta e a destruiu. Mesmo assim Gaia incitou os Gigantes a colocarem as montanhas umas sobre as outras na intenção de subir o céu e invadir o Olimpo. Mas Zeus e os outros deuses venceram novamente.



Enfim, Gaia cedeu e acordou com Zeus que jamais voltaria a tramar contra seu governo. Dessa forma, ela foi recebida como uma deusa Olímpica."