Gaia (Adoa Coelho)

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Ups! Engoli... uma Máquina de Registo Cardíaco

Mais um trabalho de uma aluna de 6º ano:



Estava eu um dia a fazer uma cirurgia plástica a um homem quando... Ups! Engoli uma máquina de registo cardíaco, deixaram de fazer a cirurgia, a minha boca só fazia pi, pi, pi, chamaram médicos cientistas, uns queriam abrir-me a barriga, chamar a imprensa e dizerem perante todo o mundo que eles salvaram a, a, a mulher máquina de registo cardíaco. Outros, queriam levar-me para um laboratório, tirarem-me cabelos, unhas, sangue, traduzindo, fizeram de mim cobaia. Este país está cada vez pior, depois de todos os serviços que eu prestei àquele hospital!

Bem, por fim, acabei numa sala cirúrgica a fazer de máquina de registo cardíaco, não é que não me importasse, pois temos de nos aceitar como somos e, além disso, não havia perigo de alguém morrer numa cirurgia, pois eu podia controlar os batimentos cardíacos.

Bem, a moral desta história é ...ou isto não é uma fábula, ah, ah, ah, mas não deixa de ter uma pequena moral, nunca engulam uma máquina de registo cardíaco.

Flávia Coelho Nº12 6º B
https://www.facebook.com/upsengoliumaestrela

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ups! Engoli uma... Mala

Eis um dos trabalhos que uma jovem fez inspirada no primeiro dos livros Ups! Engoli uma Estrela:




“Ups! Engoli uma Mala

Podem achar que sou maluca por ter engolido uma mala mas não. Eu vou contar-vos a história.
Tudo começou no dia do meu aniversário dia 8 de Março.

Tinha acabado de acordar, quando a minha família abre a porta e grita SURPRESA.
Os meus pais com o bolo começam a cantar os parabéns e a tirarem fotografias.
Quando desci para ir comer a minha mãe tinha preparado um pequeno-almoço delicioso que tinha pão, leite, sumo, crepes com chocolate e muito mais.

Quando cheguei à escola as minhas amigas tinham-me preparado uma surpresa e sabeis o que era? Nove convites para ir a Paris ver uma colecção de míni malas.

Quando lá cheguei fui direitinha para a passerelle onde estava a decorrer o desfile das míni malas. No final do desfile fui ver as malas e estava tão ansiosa mas tão ansiosa que até peguei numa mala, mas não é que dois miúdos vão contra mim e eu engulo a mala?

Fiquei muito contente por ter uma mala no meu estômago mas havia um problema, é que passava pelos alarmes aquilo apitava e os seguranças andavam atrás de mim.”

Marília Guedes
Nº 15/ 6º B

https://www.facebook.com/upsengoliumaestrela

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

NaNoWriMo 2011

:o)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pingue-pongue das cores




O pintor deixava-se escorregar da cadeira. Deslizava como engolia a bebida desde há tempos para cá, sem consciência. Estava sozinho em casa tendo apenas por companhia aquela garrafa vazia como era já a alma dele. 

Houve um tempo em que não precisava dela, da garrafa. Era soberano na sua vontade e desejos - pensava. Despia-se da vida do dia-a-dia e prostrava-se frente a uma tela branca sem problemas existenciais. Já lá iam os tempos em que esta ligação acontecia. Já lá iam os tempos em que amava aquela tela em branco. A sua amante in-secreta em cujo dorso esboçava todos os desejos coloridos. 

A amada agradecia as linhas transformadas em formas e cores. Nada a fazia mais feliz. Mas deixara de ser única. O pintor a traia com outra. Uma garrafa. Enganava-a dizendo-se que ajudava. Ela sabia a mentira. Perguntava em silêncio, porque não lhe contava o que se passava. Nem ele sabia. Só percebia de misturar tintas, não de psicologia. Disso nada sabia, apenas que sentia.

Ela, triste, nada podia fazer que vê-lo daquela maneira e brancar.

Era assim que ficava agora, todas as noites. Sentia falta do carinho dos pincéis embebidos em sonhos que lhe amaciavam a pele. Qual bálsamo poderoso. Tinha saudades de se tornar beleza e perdurava nula.

Ele... Ele simplesmente apagava-se a cada gole. Bebia as lágrimas que nem chorava. Não conseguia. Esquecera-se como. Foi numa palavra que não conseguira dizer um dia. Depois outra. Essas palavras juntavam-se a afogarem-lhe a alma. Amarravam-lhe as mãos. Tolhiam-lhe os pensamentos. Foi um amor que deixou para trás, já nem sabia porquê, e que constantemente doía.

Não haveria de pintar mais nada até que todas aquelas palavras saíssem. As palavras sim, eram cruéis. E ele nunca soubera como as usar. Extravasar.

Tombando, pisava os tubos que se esvaziavam em surdina.

Estavam assustadas. Nunca ninguém imaginou o que seria para as cores abalar do sono ancestral. Tinham medo, muito medo. A primeira luz das suas vidas. Que era aquele ser? O que seria aquilo que as iluminava? Pois não sabiam responder, mas estavam felizes. Pela primeira vez na vida podiam mover-se livremente. Que medo sentiram! Mas que estranho! O medo passara tão rápido! Como era possível? Era a alegria um anti... para o medo? Ou a verdade?

Tentaram agarrar-se a tudo o que podiam mas escorregavam das paredes, da paleta, dos papéis, das telas já usadas. Até mesmo daquela em branco. Saltavam, espichavam, esborratavam. Faziam ricochete, re-saltavam. Como saber o que fazer? Haviam sido sempre controladas na vontade. Agora que se viam soltas tinham medo. Era tudo livre demais, para elas, que não sabiam o que fazer com cada segundo de liberdade solta que ganhavam. Cruzavam-se no ar. Perguntavam quem eram as outras gotas de tinta.
Que lhes havia acontecido? 

- Morreram. - Comentou uma das gotas de cor... - Que triste fim! – Censuraram as outras.
- Que triste, quê? Já viram o leito de morte? - Perguntou uma delas. Foi quando se depararam com o todo. Até aí apenas viram parte do Mundo, e que Mundo tão pequeno e estranho. Primeiro apertado e escuro... agora... Que estranho!

– Pois, assim deve ser o Mundo. - Olhavam o atelier.

Saltavam e pingavam por toda a sala. Ping, ping. Ganhavam consciência súbita. Porque é assim que as coisas acontecem ou não. Às vezes estamos descansadamente dormidos e a consciência aparece desta maneira, de súbito. E elas já não tentavam agarrar-se a nada. O que borratavam ficava borratado. Já não tinha importância. Não queriam saber. Tinham o direito de ser. Agora! Ao fim de tanto tempo. Não se importaram mais com a beleza. Enlouqueciam. Existiam. Bebiam também elas mas de si próprias. Felizavam-se. 

Eram porque desconheciam tudo o resto e viviam o que tinham para viver na totalidade. Eram o que eram. Sem perguntas, sem pensamentos que as atrasavam no ar a meio de um salto.

Respigavam linhas. Faziam-se mais pequenitas e nem notavam. Deixavam um rasto colorido do qual o arco-íris teria inveja. Mas só por estar preso àquela ordem imutante. Elas, as gotas de cor, como livres que se viam, faziam arco-íris permanentes e com manchas de todas as cores. E faziam-no por inspiração.
As gotas de tinta saltavam felizes pela sua recém-ganha liberdade. Estavam contentes por estar ali. Não sabiam o que esperar desta nova coisa, a liberdade, por isso faziam tudo o que de repente pensaram fazer. Saltavam, cantavam... se é que uma gota de cor faz o que se chama de cantar, mas faziam música à maneira delas. Foi um impulso que as envolveu. E aproveitaram. Quando se viram sem limites, quiseram aproveitar tudo.

Pulavam e ao fazê-lo notaram que ao tocar em certos materiais faziam ruído. Era esta a música delas. O rádio do pintor, ao som do qual ele sempre pintava, estava calado, falecia no chão mudo como os olhos do pintor estavam cegos, dormidos. Geralmente coincidiam. Olhos fechados, música fechada.

Qualquer coisa acordou o pintor. Parecera-lhe que vivera um sonho. Voltou a adormecer. 

Sonhou que as cores lhe falavam. Que a tela branca conversava com ele. Tinha voz finalmente. As lágrimas corriam-lhe pela face dormida. Mas não era inconsciência que vivera. Era a realidade última que sempre se negara a ver. Queria ser o dono e senhor do que fazia e de repente, via com clareza que não controlava nada. Que era apenas servo de qualquer coisa desconhecida e maravilhosa. Obedecia-lhe por ser fraco. É assim que a arte escolhe quem lhe há-de servir, pela fraqueza.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Joy in Repetition...

 
Às vezes sou repetitiva demais. Nem chega a ser efeito, vai mais para o defeito...
 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

As chaves

Tilintam. Sabem ao que vão.
Soam ansiosas. Os olhos confirmam o caminho. As chaves também. Tilintam. Preparam-se.

Cada passo tling, depois tlang. Depois tic, depois tac.
Irritantemente metal.

Depois o coração, a pouco e pouco comuta o marca-passos. A respiração acompanha. Pesa nas escadas, em cada degrau.

tic, tac tling, tlang.
Automático.
Irritantemente frio.

Não há voltar atrás. São as chaves que o dizem. São as mestras que ditam onde estou, onde vou.
A cabeça ficou no ontem. Recusa-se a avançar. A aceitar o ali, aqui. Quer voltar e não pode.
 - Não é possível. Fizeste uma escolha!

tling, tlang... tic, tac

As pontas dos dedos lembram-se, ao percorrer cada chave, qual a que vai selar o futuro próximo. Os dias e meses próximos.
- Não há outra maneira?
- Para já não.
O diálogo surdo da mente continua, cego às escadas.

tic, tac
Irritantemente real.

As chaves caem. Os dedos na última tentativa de resistir à realidade...

tic, depois tac...
tic, tac

O tling e tlang atados nos dedos. Sabem que de seguida se soltarão. Não têm que fazer nada. Há uma rotina. Uma chave apenas que avança. Polegar e indicador conhecem-na. Apontam-na. Ah! Espada ingrata. Vais directa à fechadura. 

Não entres!
Não!

A ferida aceita a espada. E não é ela que sangra...
A porta abre-se. As chaves tilintam mais uma vez agora abandonadas no seu crime... Entro. Os rostos reencontram-se. Os olhos reconhecem-se. Um sorriso forma-se em cada lábio para se encontrarem.

tic...

O tempo não pára. Param os desejos que ficam por atrás da porta. Lá fora. E dentro, fica a realidade. Assim.

tac...


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tento adormecer e não consigo.


Trabalho de Ilaria Margutti


Sinto os pés e os pensamentos, antagonistas em si, no calor e na falta deste, nos sentimentos que provocam.
Busco a mão. Aquela mão que desde há anos me aquece de calor corpóreo e, não sendo ela toda um corpo, aquele corpo que dorme a meu lado, aquece-me por emprestar-se.

Pela primeira vez noto que existe mais ali que uma mão – objecto fechado em si, botão protector do que poderia conter, agarrar – eu, mas não agarra. Não, é mais que isso. É um coração em si. Quenta, pulsa, toma conta da consciência que se diz minha. Emana calor humano que, talvez por inveja, faz com que o meu coração, esse sim, talvez, verdadeiro, bata mais forte e por, sim, inveja, sim, se faça ouvir agora, forte.

Os pensamentos esqueceram-se-se por fim, tal como o sono. Apenas o calor se espraia juntamente com a vontade de escrever finalmente concretizada depois de dias a adiar a verdade.

Sim. Digo adiar a verdade porque é só o que sei escrever (excepto quando escrevo mentiras para me enganar – e conheço-as todas!). Tudo o que vem do coração – aquele de dentro do peito – só pode ser verdadeiro mesmo que doa.

A mente, im-explicitamente, mente. 

Deixo a mão emprestada, qual peluche caído dos braços de uma criança. Deixo-a abandonada e levanto-me.
Sinto-me egoísta. Que sinto eu?

Agora que a mão fez o seu dever de aquecer, ficou no destino que é seu. Abandono? Voltou a mão?
Poderá um dia essa mão, delicada e quente, perdoar este abandono? A troca?

Mas pergunto: a mão que não agarra é mão?

Só posso escrever a verdade...


domingo, 9 de outubro de 2011

O Gelo e a Folha

Era um cristal. Mas não era um cristal daqueles que simplesmente fica pousado num móvel ou pendurando num qualquer tecto de um qualquer palácio fenomenal. Este encontrava-se pendurado no céu. Olhava o Mundo desde cima e ameaçava cair cobrindo tudo de frio. Não tinha culpa ou pena por ser assim. Era-o apenas. Sabia que podia ser terrível. Muitos seres o temiam. Tremiam.


Decidiu-se a descer. Talvez fora um ímpeto interior mais forte, talvez fora alguma força maior que ele e caiu. Bastava de observar o Mundo, agora actuaria nele. Caiu com força. Rápido. Tinha pressa de fazer o seu destino, de ser quem era. Rodava no seu eixo de gelo e lançava braços em seu redor. Queria chegar a tudo. Atingir tudo. Do lar deixado para trás, já não tinha saudades. Tinha uma tarefa a cumprir, qual soldado em missão de vida. Levava a raiva de ser o primeiro a cair nesse Outono. Era suicida a missão, sabia-o.
Ainda lançado na sua raiva, aproximava-se das árvores. - Haveria de as congelar – pensava. - Para a eternidade.

Vinha do Mundo branco lá em cima, sem cor, e à medida que se aproximava e percebia as cores pela primeira vez, apaixonava-se. Agora os seus braços gelados estendiam-se para poder tocar. Observava.

Ela sustinha-se pela última linha de fibra que a agarrava à mãe árvore. Despedia-se. Tão pouco sabia porquê. Tinha de ir. Porquê? A separação custava-lhe tanto. Crescera e vivera sempre ali. Cantara com os pássaros, balançara com o vento. Brincara com a criança que esperava que ela caísse, mas só agora o fazia. A criança desistira. Ela ria-se! A criança pedira aos pássaros que a ajudassem. Que o vento a derrubasse. Que os insectos a cortassem do ramo. Pediu-lhe pessoalmente.. A folha, como só podia ser, era. Ali. Dançava quando era a hora. Juntava lágrimas do céu na sua palma e quando as tinha suficientes, largava-as em cascata. Passava-as a irmãs. Tentava apanhar a criança molhando-a. Queria tanto brincar com ela...
Neste dia cantava. Cantava como nunca o havia feito. O vento ventava-lhe a música, ela juntava-lhe a voz. Fazia coro com as irmãs. Estava feliz. Mas estava triste. Aquela fina linha de fibra estava prestes a quebrar-se. Chegara a hora. 


O cristal... Não fez por mal... Vira-a ali tão linda e quisera tocá-la. Quisera sentir-lhe a pele dourada. Ela era dourada! Mas ela assustara-se e levara a mal. Foram uns segundos apenas. Foi o tempo de se saber liberta e temer a liberdade. 

- Desculpa! – Disse-lhe o cristal. 

Foi quando ela o viu. Era o primeiro cristal de gelo que via na sua vida. Estava avisada que seria frio, terrível... TEMÍVEL! Tremeu sim e esqueceu-se do temer. – Ah!!!! 

O tempo, doce como só ele pode ser, parou-se. Enquanto caíam dançaram os dois, encantados com a beleza um do outro. – Tu és beleza! 

As ranhuras da folha também se estendiam para tocar o gélido cristal. Tocavam-se gentilmente. Giravam. Olhavam-se de todos os lados. Riam! Bailavam às notas do vento. Sorriam. - Quem és tu, que te amo?!

- Sim, Amo-te! – Diziam. E sem se conhecer, conheciam-se.

A eternidade mandara o vento, seu filho - Vai. Dá-lhes esta dança. – Ordenou. O vento fez o que sabia fazer. Abriu a bocarra e soprou. Os amantes não notaram. Como, se viviam?

Quando enfim a folha se deitou no leito de terra, acolheu em si o amante inesperado. O cristal de gelo aconchegou-se entre as veias da sua cama de folha e perdeu-se na existência.

Ela esperava pelo retorno do amante enquanto também ela desvanecia... O frio apoderou-se então dela pregado na saudade. Fora um Amor breve, diriam uns, mas fora total enquanto durara.

(Este texto foi escrito com inspiração de uma música de António Pinho Vargas tocada ao vivo por improvisação - 9 de Outubro do ano de 2011)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Voz Humana

A voz Humana, de Jean Cocteau com Isabel de Castro - foi uma peça de teatro que vi na minha juventude. Impressionou-me bastante porque a dada altura o personagem começa a chorar e eu, que na altura tentava controlar todos os meus sentimentos abafando-os, fiquei constrangida. Tudo o que sentia por dentro estava em reboliço – como sempre – mas, também como sempre, não deixava manifestar-se. Estava a criar uma espécie de bomba de hidrogénio humana. Era uma bomba que sem rebentar já fazia os seus danos mais funestos. Arrebentando... Nem sei. Ou sei até. Vejo os efeitos no meu pai. Somos muito parecidos, toda a gente o disse sempre. Tão parecidos que a nossa luz é muito parecida e vejo-o agora a ter um pouco o gosto da sua própria luz!


Estou mesmo parva! Não estou a ser prepotente ao escrever estas coisas e ao deixar-me brilhar! Estou a dizer a toda a gente que é OK sermos nós próprios! Estou a dizer ao pai e a quem quiser ver, ler e ouvir, sentir, que viver a nossa luz é maravilhoso! Basta de controlar! É preciso SER!

Olho para trás, para essa época em que sufocava e olho para o Agora, o belíssimo e delicioso Agora! ESTOU VIVA!!!!!

Amo-te muito pai!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Lançamento do Livro

Apresentação do "Ups! Engoli uma Estrela" de Adoa Coelho, dia 18.09.2011 em Moimenta da Beira, a cargo da actriz Maria Henrique.


A arte copia a vida excepto, quando a vida segue os passos experimentados no campo da arte.
Digo experimentados porque grande parte das vezes são mesmo ideias que um ou uma autora tem e é através da arte que verifica a execução da ideia. 

Por exemplo, quando me lembro do filme com o Jim Carrey - “Truman Show”. O filme é um Big Brother focado numa só pessoa, como o que se faz com as pessoas mais ou menos famosas nos programas cor-de-rosa. A ideia veio de trás, de um livro, o “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” de  George Orwell que descreve essa sociedade. Publicado pouco depois da segunda guerra mundial, acredito que a musa tenha sido a vida. Os dois opostos eram vividos na Europa de então, o comunismo e o nazismo, ambos com resultados desastrosos e com técnicas que nem sendo retratadas na ficção convencem de que sociedades sob vigilância não são propriamente saudáveis. Mas eis que as voltas voltam a rodar... Décadas mais tarde começa um programa que se tornará um sucesso a nível mundial – “O Big Brother”! Não é surpresa, pois não?

Depois fizeram variações com famosos em quintas e sei lá mais onde. Variações sem variedade. Excepto... que nas cidades, e por questões de segurança, porque isto é tudo a pensar no bem geral... As câmaras de vigilância estão por aí. Mas nós gostamos e até já estamos habituados.

Poderemos pensar que é mesmo tudo para o nosso bem como quase nos faz pensar assim Isaak Asimov no “Eu, robot” (não, pouco tem a ver com o filme que fizeram...), em que as máquinas acabam por tomar destas crianças malcriadas que somos os humanos. Ou o “Minority Report” do Philip K. Dick, onde finalmente o crime é combatido até antes de cometido.

Para onde nos levará a vida, não sabemos. São tempos conturbados estes que agora vivemos. Não sei se a Humanidade deveria mudar os programas escolares e mudar “história” para “Ficção”, científica ou nem por isso. Como a história está sempre a repetir-se, não valerá a pena estudá-la, mais vale preparar-nos para o que virá.

Na faculdade, quando estudei estética, o professor falou num personagem, um artista frustrado. E como falhou nas artes, tentou fazer o Mundo segundo o sonho que tinha. Imaginou um Mundo com pessoas perfeitas, todas loiras e com olhos azuis. Usou a ciência como instrumento. Hitler usou também os meios artísticos disponíveis na época para servir a propaganda política. Leni Riefenstahl fez as obras de artes “O Triunfo da Vontade” (1934) e “Olympia” (1936) ao seu serviço. Podemos, portanto, ter uma ideia bastante claro de como o Mundo de hoje seria se os planos desse homem tivessem vingado. Seria uma espécie de “Admirável Mundo Novo”. Não sei se com o mesmo nível de evolução científica como na obra do Aldous Huxley, creio que com bastantes semelhanças.

Talvez o caso mais fácil de perceber seja o de L. Ron Hubbard, por ser mais directo, por que passou de escritor de ficção científica a criador da Cientologia. No fundo, quando se escreve, pinta, faz um filme, etc, é para contar uma história e ninguém conta história se não pensa que está a mudar algo no seu receptor – um ponto de vista social, político, psicológico,... Humano.
Teorias serão apenas teorias. 

O Mundo é tão fascinante que por vezes nem se compreende bem o que influencia o quê. Agora e para nos enquadrarmos na conjunção portuguesa, a que no fundo nos diz respeito, temos as agências de Rating. Uma espécie de Big Brother a nível mundial, se quisermos usar uma pitada de humor. Já se fala em privatizar a RTP, a TAP, a água... Pouco faltará para as medidas chegarem ao ar como neste sketch da Maria Ruef! Ou estarei enganada?

Resta-nos abrir os olhos. Os fãs de crimes terão outra leitura deste Mundo. Os fãs do portal das finanças têm outra certamente.
Unicamente posso afirmar que a realidade será sempre o que é, independentemente de gostarmos dela ou não, Adoa a quem doer...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A Mosca da Escritora

O ano passado encontrei no chão, perdida, abandonada à sua sorte, a espada de Peter Pan. Uma criança a terá perdido. Resgatei-a.

Mal sabia que a viria usar nesta tarefa de voltar à tranquilidade da escrita.

Há sempre uma mosca que teima em fazer-me companhia...

Mas não foi sozinha que enfrentei esta aventura.  A Wendy, ao aperceber-se da situação, veio ajudar.



Se existe a mosca da televisão, por que não a do escritor?

The pen is mightier than the sword?
Well, sometimes!

:o)

sábado, 6 de agosto de 2011

"Keep Calm and Write Your Damn Book"

Porque às vezes preciso de saber isto.
Porque às vezes a insegurança, ao contrário de nos ajudar a dar o nosso melhor, nos impede de fazer até o mínimo.


A ler: "Keep Calm and Write Your Damn Book"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fantastic Planet


Um filme de animação de 1973.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Escrever - Dicas

Quando comecei a escrever o "Ups! Engoli uma estrela" não sabia do que iria escrever. Tinha uma ideia, sim, e era tudo. Da ideia nasceu uma história e... Tudo começou com essa história.
A fome de saber mais sobre o personagem principal foi o mote. E quando temos fome, esta só passa mesmo quando a saciamos. Mas só tinha um herói. As histórias precisam de anti-heróis para se desenvolverem. Tinha três capítulos na mão e estava parada, agarrada às ideias soltas que continuavam a surgir para a história.

Devo dizer que me custou bastante pensar neste personagem. Não queria fazer nada de já conhecido. Procurei em mim. Procurei nas histórias que nesse ano havia escrito e achei. Parecia magia! O meu anti-herói já estava construído e tinha nascido exactamente da mesma maneira que o herói. Só podia estar tudo certo.
Daí para a frente a história ia-se revelando perante os capítulos que saíam. Demorei três meses a escrever o primeiro dos livros. Nesta altura pensei que estava a enlouquecer porque só pensava na história. Tornara-se o meu mundo e parei.
Parei porque eu, autora, estava a ser sugada e precisava ter uma certa perspectiva.

Dei a ler a um amigo que prometeu fazer uma crítica. Esta foi a melhor ajuda que poderia ter tido. Havia um problema com os personagens. Primeiro recusei, mas fiz pesquisa, li livros dentro do mesmo género, estudei sobre construção de personagens e decidi-me - construí a biografia dos personagens. Depois de ter dado o primeiro "não" a uma editora, foi a altura de receber o primeiro "não" de uma editora!

Ainda havia aspectos a melhorar. Reli, reli e reli o primeiro livro. 

- qual a motivação de cada personagem
- quais os medos
- qual a história pessoal
- profissão
- de onde vêm
- para onde vão
- feições
- descrição física
- defeitos
- qualidades
- signos
- ...
O mundo já estava construído, as regras/leis destes mundos também foram clarificadas neste processo. Cheguei a fazer desenhos dos personagens - ajudou imenso.


Enquanto procurava pela editora certa, entre vários "não" e sim", pensava no segundo livro, pesquisava, lia, reescrevia/melhorava o primeiro. Foi já no processo de escrita deste segundo livro que compreendi a sério os personagens. Eles ditam-me claramente o que querem. Têm vida própria. Tudo isto faz parte integrante da narrativa. Tudo isto ajudou a construir a história. 

Agora, que o primeiro dos livros saiu e escrevo o terceiro e último livro, o processo tornou-se mais simples dentro da sua complexidade. A insegurança continua, mas também é o que me leva a pesquisar e dar o meu melhor. Questiono tudo mas acabo por seguir o que é certo para a história. É ela que conta, não eu.

Hoje deparei-me com este site que fala do processo de escrita da J. K. Rowling. "Are You The Next JK Rowling?" - perguntam. Ela é deveras uma mulher inteligente e percebe-se, pela maneira como as histórias estão contadas, que sabe contar uma boa história como ninguém.

Tudo isto para dizer que se planearmos toda a história teremos o processo de escrita facilitado.

Planear (biografias dos personagens, criação do mundo, estrutura da história)
Escrever (dar um título ajuda a clarificar o que pretendemos desse capítulo específico)
Reescrever (Ver em que pontos a história pode ser melhorada. Há falhas na estrutura? Ser cruel e cortar o que não interessa. Nós sobrevivemos com isso, a história, não.)
Editar (Esta parte deveria ser feita por alguém experiente. Editores - são pessoas que conhecem  como os livros funcionam no mercado.)

Ouvir o que as editoras têm a dizer é muito importante. No meu caso, o título original estava errado. Completamente errado! A editora aconselhou a mudá-lo. Foi uma verdadeira luta, até que pensei em como poderia descrever os livros em apenas uma frase... (Se não repararam, isto é uma dica.)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Fadas, bruxas e afins na literatura contemporânea

Este é um texto bastante elucidativo do papel que os contos de fadas podem ter nos dias de hoje.

Se o papel das fadas e bruxas ainda existe metaforicamente, poderemos atribuir-lhes o poder de aproximar os valores destes seres aos valores defendidos pelas sociedades ocidentais actuais.

Quando Bruno Bettelhein em "A Psicanálise dos Contos de Fadas" defende que as crianças deveriam crescer ouvindo contos de fadas tradicionais, repletos de instrumentos de socialização (ou serão socialmente instrumentalizáveis?) creio que esses contos podem servir também para a eternização de vários estigmas sociais e das receitas de muitos psiquiatras.

As princesas têm de ser salvas por um príncipe e a partir daí serão felizes para sempre. - Será que uma mulher precisa de ser salva? Do quê? As mulheres serão incapazes de se defenderem? É o casamento a sua salvação? ... “Felizes para sempre”? Onde é que alguma vez existiu isso? Aqui estão algumas fórmulas para a insatisfação, tristeza e frustração de muitas mulheres que ainda acreditam em contos de fadas.


De novo, na história do “Capuchinho Vermelho”, a criança/menina/adolescente, tem de ser salva do “lobo mau”/homem/sexo. De novo o elemento do sexo feminino precisa de ajuda – e não há mal nenhum em precisar de ajuda e saber como a pedir – a questão em foco é: mais papéis sociais. O homem tem aqui vários papéis que poderá desenrolar – o “lobo mau”/o homem que extravia a inocente do seu caminho de pureza..., o caçador/príncipe/herói. De resto, papéis bastante limitativos.


Esta entrevista, do psicólogo  Zenon Lotufo Jr., pode dar-nos um outro ponto de vista.

E quando uma pessoa não quer jogar nenhum destes papéis? E se as pessoas estão para além do que lhes atribuem na sociedade? 

Quando uma mulher está bem não se casando, quando uma criança sabe defender-se sozinha, quando um homem se dá o direito de ser sensível e não andar em actividades predadoras... quando as pessoas insistirem em apenas SER.



 No fundo todos nós contamos as nossas histórias, mas com imensas limitações, as limitações de que a história do “outro” é melhor que a minha ou, que a história, para ser melhor e mais bonita que a d@ visinh@, deve ser assim... comparamos o incomparável. E andamos a contar as mesmas histórias de uns e outros há séculos.

Inventem-se novas histórias, invente-se um novo mundo. Melhor que isso. Não se invente história alguma. Mas porquê ter uma história? Libertemo-nos. Que as pessoas sejam livres de SER e, se quiserem, elas próprias contar as suas histórias ou nenhuma. Bem-vind@s à co-criação do Mundo!